Florianópolis merece um governo popular. Por Elenira Vilela.

Imagem de capa: Captura de Tela.

Por Elenira Vilela, para Desacato.info

Sobre o debate da construção da frente de esquerda em Florianópolis, inicialmente eu preciso agradecer a todas as pessoas que mencionaram meu nome como viável pra compor a chapa majoritária, ou me procuraram perguntando se eu me dispunha para esse espaço. Essa confiança e reconhecimento me deixam muito feliz, mas é preciso deixar claro que eu sou militante do Partido dos Trabalhadores e Trabalhadoras e o partido já fez esse debate. O nome para representar nossa história e militância é o do companheiro vereador Lino Peres. Como sempre eu permaneço na luta e coloco meu nome para servir como pré-candidata a vereadora de Florianópolis. Essa decisão responde à necessidade de cumprir nosso dever de contribuir no fortalecimento da luta pela unidade das esquerdas, do socialismo e do feminismo.

Dito isto, quero saudar a disposição para a construção política da unidade das esquerdas em Florianópolis. Considerando o contexto mundial, nacional e local, a unidade programática, política e eleitoral são fundamentais para a defesa das nossas vidas, dos direitos sociais, trabalhistas, políticos e humanos que estão gravemente ameaçados.

O trabalho feito de reunir-se a partir de 2018, organizando coletivamente a campanha de Haddad no segundo turno, para  a partir daí buscar uma atuação em conjunto para além do calendário eleitoral, nas lutas concretas da cidade também foi fundamental.

Entretanto, esse processo teve alguns problemas de condução que passo a debater, não para encontrar culpados, mas para que possamos aprofundar nossa relação aprendendo em conjunto com o processo e fortalecendo a unidade.

E a primeira questão é que não existe a unidade em abstrato. Somos organizações diferentes, que têm projetos individuais e eles não deixam de existir no processo de construção da unidade. Nossas diferenças de construção histórica e de projeto existem. Do contrário seríamos a mesma organização. E a unidade se consolida não quando fingimos que essas diferenças não existem, mas quando as debatemos fraterna e abertamente. O caminho mais simples de não tratar dessas diferenças sempre vai gerar crises nos momentos em que elas se tornam inevitáveis e é exatamente o que estamos vivendo. O respeito a todas as organizações se constrói no processo de equacionamento e com a franqueza dos diversos objetivos. A falta de posicionamento gera insegurança em todos. Na atual conjuntura da nossa Frente de Esquerda é necessário que o PSOL declare sua posição s a respeito do que se está debatendo ao interior da aliança. A militância de todos os partidos aguarda essa posição.

Outro aspecto preocupante é o não envolvimento das militâncias das organizações e movimentos sociais da cidade no processo, no debate de programa, na organização e na participação que estavam sendo feitos com as cúpulas partidárias. Se estivessem envolvidos nos debates, o comprometimento seria maior, a capacidade da intervenção seria maior e os rumos do debate já teriam sido dirigidos pelas questões que inquietam e mobilizam militantes e lutadores. Teríamos mais clareza programática, de posicionamentos conjunturais pelas demandas populares como o enfrentamento aos ataques de Gean contra os direitos dos servidores públicos municipais e sobre as denúncias contra as privatizações por meio das OSs, as ações policiais nos morros contra ocupações, a luta dos profissionais da saúde e do transporte e o debate antirracista, entre outros. Esse envolvimento da militância no processo permitiria inclusive acumular eleitoralmente. Uma militância posicionada e esclarecida sempre se envolve muito mais nas campanhas, porque participa do processo na sua construção e percebe a frente como solidária e atuante nas pautas dos movimentos que constroem e representam.

Diante disso, me sinto na obrigação de acrescentar informações que não tem aparecido nos debates feitos nas redes, mas que permitem uma leitura mais precisa do que está acontecendo.

Primeiro que a crítica de hegemonismo e chantagem é muito injusta e não se comprova na realidade. O PT não lança cabeça de chapa desde 2008: em 2012 foi vice do PCdoB na perspectiva de fortalecer uma frente de esquerda, apoiando Angela Albino e o PSOL optou por lançar candidatura própria e não apoiou o projeto da esquerda que tinha chances concretas. Em 2016 a esquerda brasileira, o PT em particular, estavam em uma crise profunda e trabalhadores e trabalhadoras brasileires sofremos um golpe e aquele era um momento de maior exacerbação do antipetismo alimentado pelo fascismo. Novamente o PT fez o esforço de unidade.

Algumas pessoas históricas da militância de Florianópolis, como Analice Brancher, Claudia Lira, Remy Fontana e Gerônimo Machado, aos quais me somei, chegamos a convocar os debates do Coletivo Plataforma 2016 logo no início do ano para organizar uma chapa unitária da esquerda no enfrentamento do golpe que vivíamos. Contamos com a participação de dirigentes, lideranças e parlamentares de PT, PSOL, PCdoB, PSB (o raíz, não aqueles ligados aos Bornhausen que haviam se apropriado da sigla historicamente importante pra esquerda), entre outres. Novamente a opção do PSOL foi por não participar do esforço de unidade na esquerda e sair em coligação com PV e Rede, apesar de um discurso marcante do Vereador Afrânio Boppré no sentido de que todas as organizações devessem se despir de seus interesses e projetos individuais, inclusive os pessoais. Certo é que quando essa fala foi feita, um seminário público com Rede e PV (partido que nacionalmente e localmente teve muitas lideranças que apoiaram o golpe) já estava marcado e divulgado, mas essa informação não constou da fala. É importante ressaltar que o PT procurou o PSOL e que este não queria a coligação com o PT por avaliação individual. Ainda assim o PT se manteve na intenção da unidade possível na esquerda e novamente foi vice do PCdoB, ficando o PDT apoiando a candidatura de Gean Loureiro quando este era candidato pelo PMDB, e contou com um vice do PSDB e uma chapa com 15 partidos, que incluiam o DEM e o PPL (partido pelo qual concorreu a vereadora Janaína Deitos obtendo 636 votos) e que atualmente se inseriu nacionalmente no PCdoB. O PDT rompeu com o governo Gean na defesa dos servidores e contra o desmonte do plano de carreira e perdeu cargos por isso. Já o PSB apoiou a candidatura de Angela Amin do PP, cuja coligação contava com o PSD também em 2012 e lançou candidatura própria em 2016 com um bom desempenho no primeiro turno.

Alguns, falando sobre o PT, salientam sua baixa densidade eleitoral. Esquecem que o esforço pela unidade feito por uma compreensão política da importância da unidade e de derrotar a política golpista, fascista e especulativa no caso da cidade, tem prejudicado esse desempenho, entre outros fatores. É bastante razoável avaliar que se o PT tivesse sido egoísta ou tivesse colocado seu projeto individual acima das necessidades da cidade e do projeto unitário de esquerda, o PT estaria melhor eleitoralmente, o que torna ainda mais injusta a acusação de egoísmo ou chantagem.

É possível notar isso ao avaliarmos a votação em Florianópolis de Fernando Haddad no primeiro turno de 2018, quando obteve 35930 votos na capital catarinense, uma votação bastante superior aos pouco mais de 10 mil votos obtidos por Angela Albino na eleição anterior, sendo que o Ciro Gomes obteve 43895, Boulos 4944 e Marina Silva 4610. Claro que não há transferência imediata e o contexto é bastante diferente, mas o compromisso com a unidade e a manutenção de que as coligações se dessem somente nos marcos dos partidos de esquerda, e que foram contra o golpe, afetaram negativamente nossos resultados eleitorais, sem a menor dúvida.

Por esse histórico é fácil perceber que em Florianópolis o PT é o partido que tem mostrado seu compromisso com a unidade de esquerda em detrimento de seu projeto individual. Poderíamos observar que mesmo nas eleições de 1992, quando a postura nacional do PT era de crescimento e fortalecimento da legenda, que a sigla em Florianópolis aceitou apoiar a chapa de Sérgio Grando e abriu mão da candidatura própria, quando ninguém acreditava na vitória da esquerda. Naquela oportunidade indicou Afrânio Boppré, à época militante do PT, cedendo inclusive na indicação do nome partidário a pedido de Grando. Naquele momento o PT deu contribuição inestimável àquela experiência com a implantação do Orçamento Participativo, da política educacional do saudoso Oswaldo Maciel e a fantástica Doroti Martins, e assumiu secretarias difíceis como as finanças e o transporte público de passageiros, implantando os ônibus nos morros, tarefa de Névio Carvalho, entre outras responsabilidades.

Também nacionalmente a acusação de hegemonismo do PT é injusta. O PT está comprometido e abrindo mão da cabeça de chapa em Porto Alegre e em Belém, entre outros lugares importantes. Tentou apoiar a candidatura de Marcelo Freixo em 2016 e o apoio não foi recebido e se comprometeu com ela em 2020, mas o próprio Marcelo, aparentemente por problemas internos, acabou por retirar seu nome da disputa, a partir do que o PT lança Benedita da Silva. Não conheço capitais em que especialmente o PSOL esteja fazendo o mesmo gesto e desistindo de lançar nomes consolidados para apoiar os nomes que estão melhor posicionados no cenário eleitoral. Claro que alguém vai lembrar que não está fazendo isso em São Paulo, mas seria ingenuidade acreditar que o maior partido de esquerda do mundo, com quase 2,4 milhões de filiados e muitas tendências internas, vai ter processos decisórios simples e não conturbados. Há inclusive muitos erros na condução desse debate. É preciso lembrar que Lula tem destacado a importância de que o PT se mostre nessas eleições, que lance candidatos e candidatas em todas as capitais para enfrentar o antipetismo e reconquistar a base social perdida pelos próprios erros e pela campanha difamatória implacável que vem sofrendo há anos.

Por último preciso encarar o argumento de que o nome de Lino Peres não ampliaria o espectro representativo da frente e a necessidade de contemplar uma representação feminina na chapa. Como mulher e feminista sempre quero uma mulher assumindo postos de liderança e representação. Mas temos que dizer que é preciso que a mulher tem que ser feminista, tem que reconhecer e lutar com os cortes de gênero, raça e classe, precisamos de mulheres feministas que militem na luta das pautas propostas pelo movimento feminista, pelo 8M Greve Internacional de Mulheres, pela Marcha Mundial de Mulheres, pelo Movimento de Mulheres Trabalhadoras Urbanas, pelo Movimento de Mulheres Agricultoras, dos setoriais de Mulheres dos partidos de esquerda, dos coletivos e coletivas feministas do Movimento estudantil, do feminismo negro, entre muitas outras organizações. A única vereadora mulher que está hoje na Câmara de Florianópolis é antifeminista e não queremos isso. Foi Lino o vereador que deveu assumir a presidência da Comissão da Mulher na Câmara de Vereadores, para que a luta feminista tivesse um representante de esquerda.

Além disso, quando a polícia ameaça ou pratica sua brutalidade em ocupações e periferias o Lino é sempre o vereador presente, o que está lá pra defender. Lino dialoga com um setor popular, de periferia que não há nenhum outro nome que amplie nesse segmento social. Lino é o vereador das causas populares. Mesmo assim também dialoga muito bem com setores acadêmicos, mas não somente da UFSC onde se aposentou como professor e onde foi militante em toda a vida de militância em greves, na defesa da universidade estatal e pública, na luta pelo financiamento e contra a cobrança de mensalidades, na ligação com a juventude e o movimento estudantil e na luta sindical.  Não é uma relação apenas acadêmica, vai pra muito além disso. Lino também não é só negro, ele é militante do movimento negro, das causas da negritude na cidade e das lutas antirracistas. Era ele quem estava na Marcha da juventude Negra pela democracia e contra a violência.

 

O PT certamente cometeu erros nesse processo, mas a iniciativa dessa articulação pela unidade foi do PT e do PSOL, a disposição a abrir mão de vários aspectos dos projetos partidários está demonstrada na história e colocar claramente suas necessidades e demandas não é chantagem é franqueza. Se todas as organizações fizessem o mesmo, estaríamos em outro patamar de debates, aprofundando os pontos do programa que iremos apresentar pra cidade em conjunto. Aqui está a demostração da disposição na construção concreta da unidade.

Fora Bolsonaro e Gean!!

Em defesa da Vida acima dos lucros!

Frente Popular e de esquerda unida em Florianópolis com PT, PSOL, PCdoB, PDT, PSB, UCB, PCLCP, UP e PCB!

Elson Prefeito, Lino Vice e uma Florianópolis para seu povo com todes que militam por sustentabilidade, direitos e dignidade!

Elenira Vilela é professora e sindicalista.

 

 

 

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