#Editorial Um impeachment diante de 1200 cadáveres

Leitores e leitoras do Portal Desacato e audiência do JTT Agora, bom dia.

Em Santa Catarina, com 1200 mortes e com quase 90 mil casos confirmados, a máquina política está parada no pedido de impeachment ao governador Carlos Moisés e sua vice, Daniela Reinehr. Moisés e Daniela eram dois ilustres desconhecidos até que, setores fisiológicos e os disparos das redes digitais, os colocaram a governar a vida dos catarinenses. Agora são perseguidos e se digladiam para não ser empurrados ao desterro político e transformados numa nada nos livros de história. Seria um final melancólico para duas personalidades oriundas da gesta bolsonarista de 2018. Porém, seria um final indiferente aos problemas reais da população.

A soberba e a estupidez se reuniram para transformar o que era um grave problema de saúde pública numa tragédia sem limites nem horizontes. A Guerra do Contestado teve um saldo de 20 mil mortos. Foi a luta dos trabalhadores contra a exploração, o roubo, o deslocamento forçado, o instinto racista e genocida que está na gênese do capitalismo. Esse pleito durou 4 anos. A tragédia presente já conseguiu 1200 mortes em seis meses e afetou quase 100 mil pessoas.

Hoje, a luta do Contestado se apresenta de outro modo, porque a exploração continua e de forma mais violenta. O capital aperfeiçoou seus métodos de exclusão e morte; é mais violento ainda. Nesse contexto a tragédia do coronavírus nos vem jogar na cara que não conseguimos mudar o rumo da destruição, que somos pequenos e frágeis frente a um sistema impiedoso que mata sem remorso.

Porque independentemente do que seja feito agora, do pedido desesperado de engajamento da população nas medidas necessárias para desacelerar a pandemia; independentemente de que Moisés e Daniela consigam os 14 votos salvadores para barrar o processo de impeachment, para o que de fato importa, já é tarde. 1200 cadáveres demonstram o descompasso entre os tempos jurídicos e políticos, entre os tempos que distanciam a vida real e o “mundo mágico” da política. O enfrentamento entre o legal e o legítimo, entre o conhecimento e a ignorância, entre as trevas medievais e a ciência já aconteceu, e para mil duzentas famílias venceu a tragédia.

A esta altura do jogo, que relevância pode ter se houve crime na concessão de aumento aos procuradores sem a consulta correspondente ao poder legislativo catarinense? O crime que deveria estar no centro de todo pedido de impeachment ao governador e sua vice é a covardia. Covardia para enfrentar o empresariado que pressionou para abrir tudo, para incentivar a contaminação, um assassinato em massa no panteão do lucro. Por isso Moisés deveria ser entregue ao abismo da história. Moisés e a imensa maioria dessa Assembleia Legislativa que busca seu impeachment.

No leito da tragédia que enluta Santa Catarina e todo o Brasil descansa a fraude eleitoral, essa mesma que as piores escórias do sistema representativo, do poder judiciário e da mídia conservadora jogam para debaixo do tapete todos os dias.

#Editorial #Desacato13Anos #RededeJornalismoSolidário

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