Por Larissa Cabral.
Propaganda partidária de partido político, supostamente guiado por preceitos cristãos, negligencia famílias homoafetivas e ignora importante direito social
Assistindo à propaganda partidária do Partido Social Cristão (PSC), confesso que fiquei com medo (asco, agonia…). De acordo com ela, a bandeira do partido é a família, sendo que “Família = homem + mulher”. E veja a contradição, o slogan do PSC é “O ser humano em primeiro lugar”. Pelo visto, o conceito de ser humano para essa sigla deve abranger apenas aqueles seres humanos heterossexuais. Postura meio desumana essa, não?
Durante um curto período – talvez menos que 30 segundos, membros do PSC afirmam que o partido defende a família, formada por homem e mulher, formulando um discurso discriminatório e homofóbico. Ironicamente, no site do PSC em Santa Catarina, há um documento chamado “Doutrina do PSC”, que começa com “Amar ao próximo como a si mesmo” e no subtítulo Objetivos diz: “Todos os Cristãos, de qualquer denominação e de qualquer partido político, devem estar comprometidos na construção de um mundo melhor, baseado no princípio fundamental do ‘amar ao próximo como a si mesmo’ ”. Acerca do discurso sobre sociedade pluralista contido no documento, nem vou falar porque são palavras que simplesmente não condizem com suas ações. Ou com suas propagandas partidárias, pelo menos.
Talvez o pior de tudo é que a propaganda partidária em questão tem características quase pedagógicas, como se quisessem ensinar tais valores aos cidadãos, com direito a quadro negro e tudo. Mas, quem vai ensiná-los sobre respeito, amor e tolerância? Quem vai ensiná-los sobre o verdadeiro amor ao próximo, que é o que realmente une as famílias e vai além de sigla partidária e além de orientação sexual?
Casamento: ato de amor
Essa postura arcaica, discriminatória e conservadora marginaliza milhares de casais e indivíduos no mundo inteiro, inclusive no Brasil. O IBGE 2010 apontou a existência de 60 mil famílias homoafetivas em todo território brasileiro, com 37.487.115 casais formados por pessoas de sexo oposto, mais de oito mil deles na região Sul. Felizmente, em maio de 2011, o Supremo Tribunal Federal se sensibilizou e reparou um importante direito social: o reconhecimento da União Estável Homoafetiva. Com isso, centenas de casais no Brasil já lavraram suas uniões em cartórios.
A sociedade precisa proteger de forma igualitária todos os tipos de família e sobretudo, combater todas as formas de discrimação sobre uniões homoafetivas, que são constituidas, acima de tudo, de amor. Família é uma importante instituição para muitas pessoas (sei que nem todas), independente de ser formada por pais do mesmo sexo, pais separados, pais/avós, pais e mães solteiras, entre outros. Para mim, família é quem dá amparo, sustentação, amor, educação e pode ser um exemplo e guia para aquilo que esperamos da sociedade: tolerância, convivência e igualdade.
Sobre o PSC
A denominação “Social Cristão” vem da crença dos partidários de que o cristianismo, mais do que uma religião, é um estado de espírito que não segrega e não exclui, além de servir de base para que as pessoas tomem decisões de forma racional. Sua propaganda partidária, contudo, exclui e é ofensiva às demais formas de família (sim, existem várias), está em compasso com uma ideologia excludente e discriminatória.
O PSC foi criado em 1985, mas obteve registro definitivo no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em 1990, apresentando como fundamentos a Doutrina Social Cristã. O partido, cujo atual presidente nacional é Vítor Nósseis, conta atualmente com 18 deputados (um deles não está em exercício), nos estados do Rio de Janeiro, Acre, Paraná, Bahia, Pernambuco, Minas Gerais, Paraíba, Espírito Santo, São Paulo, Sergipe e no Maranhão.
Em Santa Catarina, o presidente do partido é o ex-deputado Adelor Vieira. Nas últimas eleições municipais, o PSC elegeu 26 prefeitos e 739 cadeiras em câmaras municipais. Dois anos depois, o partido conquistou uma vaga no senado, 17 cadeiras de deputados federais e 26 de estaduais.
Vereadores eleitos pelo PSC em 2008 – Marcio Kido (município de Camboriú), Antônio Paulo S. Neto “PITECO” (município de Camboriú), Ismael dos Santos (município de São Francisco do Sul), Rui Sergio dos Santos (município de São Francisco do Sul), Euclides (município de Bombinhas) e Luiz dos Santos “Luizinho” (município de Morro da Fumaça).
Veja aqui os deputados estaduais do PSC.
Veja aqui os deputados federais do PSC.
Bom, eu sinceramente torço para que nenhum candidato do PSC consiga se eleger (isso se sigla e ideologia significarem alguma coisa para eles) e, mais ainda, que essa propaganda horrenda não influencie os cidadãos, que devem estar atentos nas eleições 2012, para não repetir essa postura no seu dia-a-dia.
Recomendo: material relacionado ao tema
TCC A família no papel, das jornalistas Fernanda Friedrich e da Bruna Wagner.
http://www.familianopapel.com.br/
http://www.youtube.com/watch?v=7CugWVCoHvE
Reportagem 4 mitos sobre filhos de pais gays, na revista Superinteressante de fevereiro.
*Agradecimentos à colega Ana Luiza Lucena
[…] Por Larissa Cabral. Texto cedido pela autora do site Desacato […]
lamentável gente que um país que´é laico ,temos que ter psc como partido político!!totalmente fundamentalista e preconceituosos e o pior . usa o nosso dinheiro para pagar a propaganda e denigre a imagem da família que não éformada por um homem e uma mulher, isso é humilhante .lamentável gente.temos que denunciar e repudiar a atitude deste partido psc infelismente.
Como se já não bastasse ouvir os velhos discursos e promessas, ainda temos que assistir campanhas ridículas como essa, que te “ensina” como uma família é composta.