Por Fania Rodrigues.
Os países que fazem fronteira com a região norte do Brasil, como a Venezuela e a Colômbia, estão tomando medidas para evitar que o alto número de casos de coronavírus do lado brasileiro alcance seus territórios.
O Amazonas, que faz fronteira com os territórios colombiano e venezuelano, é o terceiro estado com maior número de contágios da covid-19 no Brasil, depois de São Paulo e Rio de Janeiro. A falta de medidas no início da pandemia e a situação precária do sistema público de saúde fez com que Manaus fosse uma das primeiras cidades a ver seus hospitais e cemitérios entrarem em colapso.
Nesta segunda-feira (18/05), o Brasil se tornou o terceiro país com mais casos de covid-19 no mundo. Essa expansão do vírus também já começa a afetar a Venezuela na medida em que muitos venezuelanos estão optando por voltar ao seu país durante a pandemia. Cerca de 40 mil cidadãos entraram pelas fronteiras terrestres nos últimos dois meses.
O governo venezuelano identificou 28 casos positivos de coronavírus importados do Brasil, sendo que 14 deles ingressaram nos últimos cinco dias e tiveram como origem o posto migratório de São Gabriel da Cachoeira (AM).
Apesar de a fronteira ter sido fechada pelo governo brasileiro em março, a decisão é válida apenas para turistas e novas migrações. Na prática, o trânsito de venezuelanos que possuem residência no Brasil está permitido, assim como a entrada e saída de brasileiros da Venezuela. O tráfego de cargas também ocorre normalmente, mas com novos protocolos sanitários, sendo obrigados a passar por uma dedetização quando entram em território venezuelano.
O fisioterapeuta brasileiro George Oliveira, de 35 anos, mora na Venezuela há cinco anos, onde estuda medicina. Recentemente decidiu voltar a Boa Vista, sua cidade natal, para passar a quarentena ao lado da família. Segundo Oliveira, não existe um controle epidemiológico do coronavírus no posto migratório de Roraima. “Do lado brasileiro não tem nenhum tipo de controle, os funcionários do posto migratório apenas anotam os nomes de quem está entrando”, afirma.
Já do lado venezuelano o controle é rigoroso e a quarentena é obrigatória para quem ingressa no país. “Todo mundo que está entrando na Venezuela precisa cumprir quarentena. Na Venezuela tem bastante controle, também porque a situação do Brasil se agravou no último mês e eles têm medo disso afetar os estados da fronteira”, diz o brasileiro.
A situação fronteiriça levou o presidente Nicolás Maduro a anunciar novas ações preventivas na região. “Estamos reforçando as ações de prevenção na fronteira. Temos que tomar medidas extremas porque não podemos permitir que nosso país seja infectado pela Colômbia e pelo Brasil”, ressaltou.
O governo do estado Bolívar informou que estabeleceu protocolos de segurança para detectar possíveis casos de contágio. O primeiro passo é a aplicação massiva de teste rápido de covid-19 na fronteira. Mesmo quando o resultado é negativo as pessoas devem ficar em quarentena por cinco dias e refazer o teste, dessa vez o chamado PCR, que obtém o resultado através do RNA do vírus e é considerado um dos mais efetivos na testagem da covid-19. Após a confirmação de que não estão infectadas, as pessoas são transportadas, de forma gratuita, até seus estados de origem, onde devem permanecer em quarentena por mais 15 dias. Durante esse processo, quando são detectados casos positivos de covid-19, os pacientes são encaminhados aos hospitais ou centros de diagnóstico para fazer novos exames e conduzir os devidos tratamentos. Mesmo os casos assintomáticos ficam internados em observação. Esse controle é feito em todas as fronteiras terrestres da Venezuela.
O consulado da Venezuela em Boa Vista ainda informou que está enviando ônibus públicos a Roraima para buscar venezuelanos que queiram regressar ao país. Cerca de 30 brasileiros que estavam passando férias na Ilha Margarida da Venezuela já retornaram ao Brasil por meio dos transportes disponibilizados pelo governo venezuelano. O consulado do Brasil em Caracas encerrou seus serviços no início do mês e os brasileiros ficaram sem assistência do governo.