Por Rita Almeida.
Não posso analisar Bolsonaro, mas posso analisar seu discurso.
Trata-se de um discurso narcisista e autoreferente. Tudo o que acontece de bom ou ruim no Universo, ele apresenta como relacionado a si: minha pátria, minha presidência, minha eleição, meu juramento, meus afetos, meus filhos, minha mulher, minha confiança, minha eleição, minha indicação, meu nome, meu condomínio, meu subordinado, meu ministro, minha luta, minha vida. Nada acontece fora do eixo do seu umbigo.
Isso pode explicar a atração que ele exerce em seus seguidores. A personalidade narcísica exerce enorme fascínio, afinal, a maioria de nós, em algum momento da infância, gozou desse lugar precioso, de centro do mundo: para o bem ou para o mal.
Algumas pessoas se mantém aprisionadas nesse discurso narcísico infantil, mesmo na vida adulta. Bolsonaro é um exemplo.
Para alguém nesse discurso de centro da existência, só há dois tipos de pessoa: os aliados e os inimigos. Aquela tropa de Ministros ao seu lado durante o pronunciamento serve para mostrar seus aliados, neste momento em que ele se sente ameaçado por inimigos.
O discurso dos aliados precisa ser um espelho do discurso do narcisista, caso contrário, é rapidamente colocado na condição de inimigo. E diante do inimigo, o narcisista só sabe operar de duas formas, as únicas onde ele ainda se mantém no centro do discurso: ou como agressor ou a vítima. No caso de não poder eliminar o discurso do outro por meio do seu potencial agressivo, se posiciona como vítima dele.
Sabe aquele seu amiguinho do jardim da infância que te batia e falava que você é quem bateu nele? Pois é… Para se manter no centro do mundo, o narcisista faz uso da mentira e até mesmo do delírio. A única coisa que não pode acontecer com ele, é perder seu lugar de centro do discurso.
Hoje Bolsonaro fez uma fala limítrofe, totalmente insana e infantil, nessa tentativa desesperada de se manter como “dono da bola, do time e do placar do jogo”.
Todo mundo, algum dia, já teve que lidar com o garoto idiota que pretendia ser o dono da bola, do time e do placar do jogo. E a gente sabe exatamente o que fazer com ele.