O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, está na berlinda. Em conflito com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), o ministro adota um discurso de defesa do isolamento social, como forma de reduzir os danos da pandemia do novo coronavírus, segundo orientações da Organização Mundial da Saúde. Já o presidente ridiculariza a doença, que já matou cerca de 140 mil pessoas no mundo e força para que os brasileiros retomem suas atividades normais.
Depois de “ter limpado as gavetas” na última semana, Mandetta seguiu no cargo com apoio de militares. Em recente entrevista para um programa da Rede Globo, o ministro tensionou mais. Criticou abertamente a postura do presidente e o atrito, ao dizer que “o brasileiro não sabe em quem acreditar, se no ministro ou no presidente”. Veio uma nova fase da crise no ministério.
Na manhã desta quarta-feira (15), o secretário de Vigilância do ministério da Saúde, Wanderson Kleber de Oliveira, chegou a pedir demissão, antecipando a saída de Mandetta. Wanderson é um dos principais quadros técnicos do ministério, sendo ele que apresenta diariamente o balanço do avanço da pandemia no país. À tarde, porém, o ministro confirmou ter recebido o pedido do secretário, mas que a demissão foi negada. “Entramos aqui juntos e vamos sair juntos”, disse.
Um dos nomes mais cotados para substituir o ministro é o deputado ultraconservador Osmar Terra (MDB-RS). O deputado partilha da mesma visão de Bolsonaro sobre como enfrentar a disseminação do coronavírus. “Osmar Terra fala todo dia que o caminho é outro. Teorias que não sei de onde vêm, (isolamento) vertical, oblíquo. Não sei de onde vêm, mas as pessoas acreditam. Temos visões diferentes do mesmo problema”, disse Mandetta.
Propagador de fake news
Além de ser defensor de compor a ala chamada “ideológica” do governo Bolsonaro, alinhada com as idéias ultra-conservadoras do “filósofo” Olavo Carvalho, Terra vai contra consensos científicos e é um dos parlamentares que mais disseminam fake news sobre a pandemia nas redes sociais. O levantamento foi feito pelo portal de checagem de notícias (fact check) Aos Fatos, que analisou 1.500 dos tweets com mais alcance sobre o novo coronavírus.
“No total, foram encontradas 159 postagens com desinformação veiculadas por 22 parlamentares e que somavam cerca de 1,58 milhão de interações no período. Terra foi, sozinho, responsável por 38 desses posts (23,9%) e 522.485 dessas interações (32,9%)”, aponta a apuração.
Terra promove desinformação ao distorcer fatos científicos e ao tirar conclusões contraditórias sobre a pandemia. Ele chegou a dizer que a Holanda controlou a pandemia sem fazer nada, deixando o vírus circular. Mentira, o país determinou o fechamento de muitos estabelecimentos e defendeu o isolamento social.
“Estou convicto que obrigar à quarentena pessoas fora do grupo de risco não diminui contágio do corona, pode até aumentar, e não altera a curva da epidemia”, disse Terra em uma postagem. A informação vai contra a totalidade dos estudos globais sobre a covid-19. Achatar a curva epidemiológica é necessário para que o sistema de saúde possa comportar os infectados. Caso o contágio seja muito veloz, o colapso da saúde pode agravar o impacto da epidemia com muito mais seriedade.