Uma das maiores favelas de São Paulo virou exemplo em ações que podem conter o avanço do novo coronavírus. Paraisópolis tem a população de uma cidade no espaço de uma comunidade. São cerca de 100 mil pessoas espremidas em casas e barracos ligados por vielas.
Tanta gente dividindo pouco espaço forma uma condição que facilita a disseminação do vírus. É difícil fazer isolamento social assim. Mas a comunidade se organizou para tentar saber com rapidez quem tem sintomas da doença, quem precisa de ajuda, qual a situação na casa de cada família que mora no local.
A comunidade transformou 420 moradores em presidentes de rua. Cada um é responsável por monitorar umas 50 casas.
“Assim que a gente identifica um caso suspeito, a gente passa a monitorar essa família, dar orientação. Então o presidente de rua ele é responsável por garantir que essa pessoa fique em casa, conscientizá-lo. Passando mal, a ambulância vai ser acionada”, diz Gilson Rodrigues, líder comunitário de Paraisópolis.
Paraisópolis mantém três ambulâncias e profissionais de prontidão.A comunidade já registrou 15 casos confirmados de Covid-19 e oito mortes suspeitas. Alexandra Pereira da Silva é uma das presidentes de rua e já chamou os socorristas para ajudar um vizinho.
“A gente foi até a casa da pessoa, eles examinaram ela lá, depois trouxeram para cá porque ela estava com muita falta de ar, e graças a Deus está até em casa, tomando medicação, está em casa, a gente está de olho, claro”, conta.
A rede dos presidentes de rua também identificou quais são os moradores que perderam a renda por causa da pandemia e estão mais necessitados. Para essas pessoas, voluntários preparam marmitas todos os dias. Neste sábado, foram duas mil refeições.
“A nossa população, além de ela ser de serviço, ela não tem como fazer o home office porque são diaristas, cozinheiras, pessoas que trabalham no serviço de manutenção, a grande maioria. E a gente juntou todo mundo, a mulherada, para poder se acolher e superar esse desafio aqui na comunidade”, diz Elizandra Cerqueira, presidente da Associação das mulheres de Paraisópolis.
Neste sábado, também teve distribuição de ovos de chocolate.
E um projeto da comunidade que capacita mulheres para serem costureiras está dedicado, agora, a confeccionar máscaras de pano. A oficina está quase vazia porque as mulheres levaram máquinas para costurar em casa.
“Trabalhando em casa e com renda. Isso é muito importante, porque você pedir para fazer isolamento sem pensar como as pessoas vão sobreviver é um desafio muito grande”, diz Suéli Feio, idealizadora do projeto Costurando Sonhos.
A renda delas vem de uma empresa que está pagando pelas máscaras, que serão distribuídas na comunidade. Tudo o que Paraisópolis está fazendo é mantido com parcerias como essa, doações, uma vaquinha pela internet e voluntários.
A solidariedade também é contagiosa. Neste sábado, apareceram quatro pessoas de outro lado da cidade levando cem marmitas prontinhas para servir. E olha que uma dessas pessoas é o Leandro, que já perdeu o emprego por causa dessa crise.
“A gente falou que a gente precisa fazer algo para o próximo, como ajudar o próximo, através do que a gente tem na mão. É fazer uma comida, é trazer um conforto para quem tem mais dificuldade do que a gente”, diz o publicitário Leandro Pestana.