Por Jonas Toebe.
A Secretária de Educação do Estado de SC vem se estruturando para colocar em prática o modelo de Educação à Distancia nas escolas catarinenses através da plataforma Google For Education. Fruto de uma parceria entre a Secretaria de Estado da Educação (SED), o Consed (Conselho Nacional de Secretários de Educação) e a Google, o acordo foi assinado no final de 2019 e duas escolas da rede estadual estavam participando nesse primeiro ano de aplicação. Diante da pandemia do covid-19, a Secretaria de Educação vem acelerando tal projeto colocando-o para toda a rede estadual e, num primeiro momento, realizando a formação dos professores para o uso dos diferentes programas do sistema. Sabemos que historicamente a educação no Brasil sempre foi privilégio dos socialmente mais favorecidos, atribuindo à grande massa populacional uma educação falha e com inúmeros problemas estruturais. Sem levar em conta as condições dos professores e alunos para efetivar este tipo de modalidade de ensino, agrava-se ainda mais a desigualdade educacional (e dessa forma, social) no Brasil.
As novas tecnologias ligadas à internet estão reorganizando as formas de comunicação e estruturação da sociedade. Por exemplo, o jornalismo vem cedendo lugar à virtualidade em lugar ao clássico jornal impresso. Essas tecnologias vêm prometendo reestruturar também os rumos dos processos de ensino e aprendizagem. Na educação catarinense, por exemplo, o “Professor Online” (sistema implementado a partir de 2015 que transferiu registros do papel para o virtual) colocou novas situações e obrigações para os professores, sendo estes obrigados a acessar e colocar informações diárias, na qual não eram (e continuam não sendo) garantidos equipamentos e nem internet. O modelo que está sendo implementado atualmente considera que a tecnologia é uma extensão da sala de aula, mas não pondera aspectos como a universalização e democratização do acesso ao conhecimento, ou seja, daqueles que não tem como acessar as ferramentas que são necessárias no modelo EAD (internet, computadores e impressoras).
As novas tecnologias devem ser vistas sim como ferramentas indispensáveis no processo formativo dos estudantes, mas nunca como o principal e único meio de socialização do conhecimento. A falta de contato entre professores e estudantes, por exemplo, leva a novas dificuldades na efetivação e assimilação dos conhecimentos, pois educação é formação, interação e construção dialógica de saberes acumulados historicamente. Numa sociedade que acredita em terraplanismo, fakenews e na não necessidade de vacinas, essa metodologia de ensino pode contribuir ainda mais com a ruptura do processo de conhecer.
Além disso, os professores, que já vem sendo castigados pelas políticas públicas brasileiras, seja pela falta de concursos, na responsabilização dos problemas nos processos de ensino e aprendizagem, na retirada de direitos conquistados (salário e carreira) e nas condições de trabalho, só podem ver o ensino EAD com tendências a destruir e aprofundar ainda mais as contradições da sua categoria. Para citar um exemplo, não sendo obrigatório (e nem pode ser) aos estudantes essa modalidade, ao professor fica responsabilizado um duplo trabalho, ou seja, preparar material para a modalidade online e depois retomar novamente os conteúdos em sala de aula. Além disso, a dificuldade de avaliar e de acompanhar a evolução dos estudantes visando construir soluções para os problemas que vão aparecendo.
No meio de uma pandemia, que afeta e pode afetar a vida e a saúde dos trabalhadores, a preocupação do Estado é implementar um sistema que pode trazer novos impactos àqueles que necessitam da educação pública. Sem regulamentação, sem garantias de trabalho e de acesso as ferramentas nesta modalidade de ensino, não podemos ver com bons olhos a implantação de tal sistema na rede estadual de SC, pois vai aprofundar ainda mais o acesso e a qualidade da educação catarinense. Sem um planejamento EAD, sem considerar a atividade docente, os estudantes e as dificuldades das famílias, tudo indica que essa metodologia aprofundará ainda mais as já existentes desigualdades nos processos formativos catarinenses. Em outras palavras, esse modelo é bom para o filho do outro (pobre, trabalhador e periférico)!