Por Bruno Capelas, no Terra.
O Google lança, na madrugada desta sexta-feira, 3, um novo recurso que poderá ajudar autoridades a saber se políticas de distanciamento social estão sendo seguidas em meio à pandemia do coronavírus. Com dados de localização de usuários obtidos em 131 países diferentes, a empresa publica a primeira versão dos Relatórios de Mobilidade Comunitária, mostrando como está a movimentação das pessoas em diferentes tipos de locais, como parques, lojas, locais de trabalho e residências. Aqui no Brasil, além de dados centralizados sobre o País, haverá números específicos sobre cada um dos 26 Estados da União, bem como o Distrito Federal.
“Já usamos dados agregados e anônimos que indicam a movimentação em determinados lugares, como vias de trânsito intenso ou restaurantes”, explica a empresa, em comunicado assinado por Jen Fitzpatrick, vice-presidente da área de mapas, e Karen DeSalvo, diretora de saúde do Google. “Agora, os relatórios vão conter informações sobre o que mudou agora que as pessoas estão trabalhando de casa, tomando medidas para que a curva da pandemia deixe de ser ascendente e se transforme numa linha plana.”
Com as informações, a expectativa é de que autoridades compreendam não só se a movimentação caiu ou subiu, mas também se é necessário, por exemplo colocar mais ônibus ou trens à disposição das pessoas, para evitar que os passageiros se aproximem durante a viagem.
Queda
Em uma primeira versão do relatório, referente ao dia 29 de março e obtida com exclusividade pelo Estado, é possível verificar que a movimentação do brasileiro em lojas e locais de recreação caiu 71%, na comparação com a média dos mesmos locais nos domingos das semanas entre 3 de janeiro e 6 de fevereiro. Os dados sempre consideram a média de variação para os diferentes dias da semana. Em mercados e farmácias, esse índice foi de queda de 35%; em escritórios, a baixa foi de 34%. Já nas residências, houve alta de 17% na movimentação.
Os números do Estado de São Paulo são bastante parecidos: em lojas e locais de recreação, houve queda de 72% em comparação com a média; em mercados e farmácias, baixa de 36%. Em locais de trabalho, a redução na frequência foi de 37%, enquanto a movimentação nas residências ficou igual ao índice nacional, com alta de 17%.
A empresa ainda não definiu qual será a periodicidade da atualização dos dados – num primeiro momento, quer ouvir retornos de autoridades e dos usuários para entender o que pode ser aprimorado. “Vamos continuar avaliando os relatórios à medida que receber opiniões e sugestões de autoridades sanitárias, organizações da sociedade civil, governos e da comunidade como um todo”, disseram as executivas no comunicado.
Todos os relatórios devem ser divulgados com dois ou três dias de atraso, explicou a companhia, uma vez que este é o tempo necessário para que as informações sejam processadas. Segundo o Google, os relatórios foram desenvolvidos depois de pedidos de autoridades sanitárias, em todo o planeta, para saber se seria possível utilizar dados de localização para monitorar o avanço da doença.
Privacidade
Todos os dados cedidos publicados nos relatórios foram agregados e tornados anônimos pelo Google, explicou a empresa. Além disso, as informações passaram por um processo que a gigante de buscas chama de privacidade diferencial, com a inserção de um “ruído” aleatório, que não permite a individualização dos usuários. A tecnologia, criada pela companhia, está em código aberto – o que permite que qualquer pessoa possa verificar como funciona, aumentando a transparência por trás da ferramenta.
Além disso, todas as informações são coletadas a partir de usuários que deixam seu histórico de localização ligado – um recurso, que, por padrão, fica desligado para todos os usuários do Google. A tecnologia utilizada nesse monitoramento é a mesma que indica, por exemplo, se uma rua está congestionada ou um horário de pico num restaurante no Google Maps.