(Para Minervina Klueger, minha mãe)
Sabe, mãe? Há coisas, agora, que já não tenho para quem contar. Há coisas que eu fazia ou vivia pensando em como contaria para a mãe, e que agora faço ou vivo sem ter mais nenhuma pessoa que se interessaria em saber a respeito. Talvez, a Margaret, mas ela foi-se embora da minha vida quando a Valentina era um bebê, e a Valentina já vai fazer 9 anos.
Eu visitei meu primo Ralf Passold em novembro do ano passado e gostaria de poder contar para a mãe como foi, pois a mãe sempre queria saber tais coisas, mas agora já não tenho para quem contar. Então, escrevo.
O Ralf está morando numa cidade chamada Aurora, numa localidade chamada Fundos Aurora. É muito longe de tudo – desde o centro de Aurora (que é minúscula) até lá são uns 15 km. O Ralf comprou uma casa de negócios, uma construção enorme, que tem um bar e uma cancha de bocha. É aquele o único local de encontro da população local, além de duas igrejinhas, talvez três, pois deve ter a luterana também. O que vi foram a católica e a Assembléia de Deus. Então, nos sábados à noite, que é quando estive lá, algumas pessoas aparecem para tomar um refrigerante ou uma cerveja porque “já não agüentam mais ficar em casa sem ver ninguém”. Enquanto eu estava lá o Ralf falou para alguns clientes se já haviam conhecido a escritora Urda, etc. E, incrivelmente, lá naquele fim de mundo, as pessoas tinham meus livros e os liam!
Eu disse fim de mundo, mas é um fim de mundo muito bonito. Passeei com a Iraide ao por do sol e tudo é tão bonito, por todos os lados! E para se chegar a Fundos Aurora, a maior parte da estrada está plantada, de ambos os lados, de rosas de Santa Rita. É uma iniciativa incipiente de turismo rural. Com Iraide, vi duas ou três propriedades que já não eram rurais, mas casas de campo de gente que não era dali. E o Ralf tem um cachorrinho, e o Atahualpa estava comigo. Se a mão soubesse como o Atahualpa ficou grande, bonito e inteligente!
Sobre o Atahualpa eu posso falar para outras pessoas, pois muitas o conhecem, e estou até escrevendo um livro sobre ele. Mas a quem mais interessará saber que fui visitar o Ralf e a Iraide? É em momentos assim que sinto a falta da mãe.
Blumenau, 25 de agosto de 2010.