Uma reportagem britânica encontrou crianças entre os 8 e os 13 anos a trabalhar oito horas por dia, por salários de miséria, em quintas guatemaltecas que abastecem a Starbucks e a Nespresso.
O gigante das cafetarias Starbucks «foi apanhado» na rede de trabalho infantil, afirma o periódio The Guardian na sua edição de ontem, depois de uma equipa de investigação do programa «Dispatches», da cadeia britânica Channel 4, ter encontrado crianças com menos de 13 anos a trabalhar nas quintas guatemaltecas que fornecem as lojas da empresa.
A equipa «filmou crianças a trabalhar 40 horas por semana em condições atrozes, a apanhar café por uma salário diário pouco maior que o preço de um café com leite [latte]». Na mesma reportagem, também é visada a empresa Nespresso, igualmente abastecida pela exploração do trabalho infantil na Guatemala.
Os jornalistas do «Dispatches» afirmaram que algumas das crianças não tinham mais de oito anos e chegavam a trabalhar oito horas por dia, seis dias por semana. Eram pagos de acordo com o peso dos grãos que apanhavam, sendo que cada saco podia pesar até 45 quilos. «Por norma, uma criança receberia menos de 6 euros por dia, embora, nalguns casos, pudesse ser tão baixo como 27 cêntimos por hora», refere o jornal.
No decorrer da investigação, a equipa do «Dispatches» visitou sete quintas ligadas à Nespresso e cinco à Starbucks, tendo deparado com trabalho infantil em todas.
Exploração e violação das normas internacionais
Um advogado de direitos humanos que viu algumas das provas contidas nas filmagens «sugeriu» que ambas as empresas estavam a violar as regulamentações laborais internacionais estabelecidas pela Organização Internacional do Trabalho (OIT).
A reportagem estimou que, dos 2,75 euros gastos num copo de café típico, a loja receba 90 cêntimos e os funcionários recebam 66 cêntimos. Para os impostos vão 40 cêntimos, ficando a Starbucks com um lucro de 27 cêntimos. A empresa tem uma receita anual global superior a 23 mil milhões de euros e quase mil lojas no Reino Unido.
Depois de descontados outros custos, sobram 12 cêntimos para os abastecedores do café, dos quais 1,2 cêntimos se destina ao agricultor, que usa uma parte para pagar aos recolectores de café.
Abordadas e confrontadas pelo «Dispatches», tanto a Nespresso como a Starbucks disseram que tinham «tolerância zero» com o trabalho infantil e que haviam lançado investigações.
Recorde-se que, segundo dados do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), uma em cada duas crianças na Guatemala sofre de desnutrição crónica. Trata-se do pior índice de desnutrição infantil entre todos os países latino-americanos e o sexto a nível mundial.
O problema, considerado grave pelas Nações Unidas, decorre da elevada pobreza e da grande desigualdade económica que prevalecem no país centro-americano.