Por Claudia Weinman, para Desacato. info.
O povo Kinikinau vive em uma parte ocidental do Mato Grosso do Sul. O Manoel Roberto Kinikinau, por exemplo, que conhecemos em Goiás, durante um encontro mais amplo com os povos indígenas de outros dez estados do Brasil pelo menos, fala mais a partir da representatividade dos Kinikinau de Miranda, aldeia Mãe Terra, Terra Indígena (TI) Cachoeirinha.
Os Kinikinau foram praticamente “apagados” enquanto povo e origem. Algumas leituras e pesquisas de antropólogos refletem o período pós-guerra do Paraguai como um marco de perseguições, fazendo com que estes, inclusive, se denominassem de outra forma, evitassem a língua tradicional pela violenta repressão. A invisibilidade também nos foi relatada em entrevista nos destaques para os processos de extermínios movidos pelo Estado e o uso dos Kinikinau como serviçais.
Se no percorrer da história a violência fez com que os Kinikinau “silenciassem” como medida de proteção, na atualidade, embora tendo o seu próprio conselho e assembleia do povo para reivindicação de direitos e também resistência, eles vêm sofrendo com os agroparlamentares que no governo de Jair Bolsonaro somam, enquanto ministros, a maioria vinda do Mato Grosso do Sul, como por exemplo, o Ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, muito conhecido pelos indígenas na política em defesa do agronegócio que tem avançado, inclusive, nos processos de paralisação e revisão dos territórios.
A resistência, mesmo diante dessa conjuntura, é expressa na arte, especialmente das mulheres. Um dos trabalhos que tivemos acesso e trouxemos para Santa Catarina, é um mosaico, que aponta em traços o significado do caminho percorrido pelo povo Kinikinau no que chamam de: “Retomada: a volta para casa”, subindo para a sua moradia. Nos relatos, está a dificuldade apontada nos degraus delineados, diante do genocídio. O símbolo da reza, da terra natural também faz parte da conjuntura da obra.
Agora, imaginem. Estamos falando aqui dos Kinikinau, mas o povo Terena, os Guaná, Guarani, Kaiowá também vivem nesse estado que carrega um índice absurdo e genocida. Um dos relatórios divulgados pelo Conselho Indigenista Missionário- CIMI, nos últimos anos, evidenciou mais mortes de indígenas no Mato Grosso do Sul do que na Guerra do Iraque. Os ataques paramilitares, os assassinatos pelas mãos de posseiros e fazendeiros perseguem esses povos que no ano passado, inclusive, participaram da 41ª Sessão do Conselho de Direitos Humanos das Organizações das Nações Unidas (ONU) em Genebra, na Suíça para denunciar os crimes. Assistimos desde o Brasil, a uma transmissão ao vivo de uma mãe do MS dizendo: “A gente não aguenta mais”. Ela carregava sua criança nos braços.
Com informações de Matias Rempel/CIMI.
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Claudia Weinman é jornalista, diretora regional da Cooperativa Comunicacional Sul no Extremo Oeste de Santa Catarina. Militante do coletivo da Pastoral da Juventude do Meio Popular (PJMP) e Pastoral da Juventude Rural (PJR).
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