Por James Ratiere para Desacato.info
Todos os dias eu leio Clarice Lispector, é uma espécie de livro sagrado que tenho em casa, grosso, capa dura, com todos os contos da escritora reunidos.
Quem me visse pela noite lendo Clarice acharia estranho, por causa das minhas caretas e risos abertos lendo uma genialidade.
É estranho me identificar tanto com uma escritora que nasceu na Ucrânia em tempos horríveis, veio para o Brasil fugida, perdeu a mãe, teve uma infância e adolescência difícil, e se encontrou nas letras. Difícil se identificar com alguém que faz aniversário 8 dias antes do meu, e pra acabar de ser tão sagitariana, resolveu nos deixar um dia antes de completar 57 anos.
Clarice é melancólica de uma forma genial, aquela que leva a parte da filosofia onde devemos nos surpreender com tudo a risca, e de uma barata, escreve “A Paixão segundo G.H”.
Desculpem-me os teóricos sobre literatura e sobre a escritora, aqui são só palavras de um admirador, de alguém que se identifica muito, e tira das palavras que vinham daquelas mãos ucranianas algo para a vida.
Temos nos assustado com tantas coisas ruins, a vida tem se tornado um redemoinho de política, balas perdidas, injustiças, declarações hediondas, feitos preconceituosos, que esquecemos de olhar pra esperança, aquele outro nome que chamamos o grilo verde que nos visita. Ou olhar com surpresa pra uma begônia que nasce da areia acumulada no bueiro.
Hoje eu admirei essas flores nascidas em um lugar muito improvável, dei um abraço na minha amiga, beijei meu amor e vivi um pouco longe das redes.
Hoje não fiz jornalismo, não me inteirei das asneiras no Palácio do Planalto. Hoje, me resguardei. E li Clarice para arrematar o dia.
Ao escrever este texto, sorrio porque são 1:10 da manhã desta segunda-feira, semana na qual se inicia um mês, e chego ao final do meu dia com essa conclusão. Devemos olhar para a beleza da vida e admirar mais o que ela nos concede. Um dia desses, a esperança vai voar até nós e vamos sorrir, lembrando o quanto é belo o verde colorindo o dia.
Boa semana.
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James Ratiere é estudante de Jornalismo e escritor nas horas vagas desde os 14 anos.
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