O diretor do Colégio de Aplicação Edson de Azevedo foi surpreendido nesta sexta-feira com um vídeo, gravado sem autorização, e publicado nas redes sociais do deputado Jessé Lopes (PSL). O deputado e sua equipe estiveram no colégio na quinta-feira à tarde dizendo representar um grupo de pais da escola que temiam por uma greve na unidade de educação básica. Para ter acesso à sala do diretor, Lopes teria mentido na portaria, garantindo que havia agendado um horário.
Pelo menos parte da conversa foi gravada e divulgada sem autorização do diretor. “O deputado pediu para que uma pessoa de sua equipe tirasse uma foto daquela reunião para mostrar aos pais que dizia estar representando. Eu consenti, mas pedi que não fosse publicada em redes sociais”, conta Azevedo.
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No vídeo de cinco minutos, Lopes e um de seus assessores aparecem entrando no colégio e pedindo explicações ao diretor sobre o risco de paralisação por conta da greve estudantil. Ao sair, o deputado diz “ter certeza de que o diretor está sendo conivente, de forma velada, com relação à essa paralisação”. E o assessor completa: “Me parece que ele não quer se indispor com quem está acima dele. Alguém da estrutura maior da universidade, senão ele também, está agindo em favor dessa greve que é ilegal.”
O vídeo é claramente mais uma tentativa do parlamentar de intimidar docentes, técnicos e estudantes da UFSC. Em suas redes sociais, Jessé Lopes tem protagonizado uma campanha contra a greve estudantil e contra a universidade.
Na última terça-feira, os alunos do Colégio de Aplicação não tiveram aula porque os professores precisaram se reunir para organizar o calendário escolar por conta da greve estudantil, já que cerca de 40 bolsistas da UFSC que atuam na escola aderiram à paralisação.
Como parte desses bolsistas atendem 73 alunos com necessidades especiais, os docentes tiveram de se revezar e fazer uma nova escala de trabalho. Com o remanejamento dos professores, os alunos do 1º ao 5º ano começaram a ser liberados mais cedo. “A reunião de terça-feira foi realizada para organizar e articular a melhor forma de atender minimamente todos os 945 alunos do Colégio de Aplicação, com prioridade em manter a qualidade de ensino que a escola prima”, diz Azevedo.
Segundo o diretor, o deputado propôs que a escola dispensasse os 73 alunos da Educação Especial para garantir a aula aos demais estudantes. “Sugestão que repudiei, justificando que a escola e a universidade são inclusivas, e que esta posição contraria a nossa missão institucional.”
No vídeo, Jessé Lopes também sugere que os bolsistas sejam trocados e critica a greve estudantil. Antes de encerrar, divulga uma informação falsa, ao dizer que o governo federal acabou de liberar R$ 3,5 bilhões para a Educação e que esse dinheiro já está disponível para a universidade e para o Colégio de Aplicação. Esses recursos, no entanto, não foram repassados às instituições federais de ensino e nem há previsão para que isso aconteça.
O bloqueio de R$ 43 milhões no orçamento da UFSC continua.
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Na semana passada, mais duas instituições confirmaram seu apoio à docuficção “Quarenta”: o Sinasefe e o Sindsaúde. Você também pode fazer parte da campanha de financiamento coletivo. Para contribuições individuais, clique em catarse.me/quarenta