Por Luciane Recieri.
A menina que mora no fim da rua me pergunta se dá pra amar pouco.
Ela, 16 ou 17 me pergunta e semi-responde. Ela que descobriu que amar pouco é mais fácil e eficaz responde – dá. Escolhe-se alguém pra amar e pronto. É rápido, indolor e barato. Amores assim se encontram nos guichês, nas estações do cotidiano e nas salas mais adiantadas do colégio. São fáceis de recrutar e estão sempre nos locais e horários previstos. Não amarrotam, são mais bonitos e calcula-se que dão um quarto a menos de trabalho.
Olho para ela e encontro olhos castanhos e intensos, reconheço neles o brilho simples de personagem de gibi – muito próximos, buliçosos, espontâneos.
Já que amei tanto e saí como gata escaldada, náufraga e quase falecida, acho válido considerar a teoria da menina para sofrer menos, pois é tão grande tudo que sinto tanto pelos amores intensos quanto os econômicos, penso isso com os olhos no chão.
Repito que mesmo quando econômicos se tornam em um ou dois meses desmedidos.
A menina de 17 anos me diz mais vantagens sobre sua teoria:
– É muito eficaz para se poupar de arranhaduras.
Arranhaduras. Lembro dela dizendo isso e fico com os olhos cheios d’água. A menina me leva à infância. Remete-me a um tempo e que eu, muito pequena, ia colher framboesas ou morangos silvestres. Só me lembro que eles tinham espinhos que pareciam sereno e, junto às flores, eram imagens de sonho.
As flores e os frutinhos me fascinavam tanto que não me preocupavam os espinhos, apenas pensava no prazer que seria comer aquelas delicadezas açucaradas, depois separar as flores miúdas para enfeitar a casinha das bonecas. Estas alegrias só se desfaziam como açúcar n’água quando os espinhos começavam a me incomodar.
Não sabia bem de onde vinha aquela dorzinha aguda e foi por isso que comecei a sentir pena das crianças. Elas nunca sabem o que na realidade lhes causa dor e vão vivendo sentindo aflições desnecessárias.
A menina volta e me consola. Diz que não adianta fugir dos espinhos então, pois amar demais é dom apenas dos poetas, daqueles que quase nunca se penteiam, dos que trazem papéis amassados nos bolsos vazios e roupas amarfanhadas, dos que contemplam mãos e pés, que perdoam em troca de sorrisos, dos que possuem mãos borradas de tinta azul e me lembra que nasci com esta cicatriz de náufraga e escaldada, plenamente amarfanhada. Estarei fadada a andar só, mãos nos bolsos vazios decorando trechos de outros poetas, coração aos pulos de quem sempre está por um fio ou apenas com as mãos feridas por espinhos de neblina.
Ela, 16 ou 17?
Sorrio pra dentro como é comum aos poetas integrais e sigo amando muito e sofrendo mais.
Amar pouco não é o bastante para se Amar…
Pois esse amor pode repousar em um estágio duvidoso e se despedaçar facilmente.
Assim, a dor poderá ser amena… no entanto a sinceridade e naturalidade de se Amar não será plenamente alcançada…
Pode-se amar uma lata de ervilha….e isso seria amar pouco ?
Amar é algo tão bom que dura uma vida e além dela…
Uma paixão é uma ignição, mas Amar é como o mar ou como o céu estrelado, sabe-se que existem muitas estrelas no mar ou na noite, mas muitas mesmo, no entanto não é possível mensurá-las…
E é assim que eu Amo, com sinceridade e com um coração que transborda… mesmo sem saber contar o quanto ele está pleno deste Amor…
Muitas daquelas minhas teorias de 17 evoluíram ou serviram de base para novas idéias…
Existem muitas formas de amar, mas este Amar, entre duas pessoas… é algo tão forte que nenhuma outra lembrança ou aventura pode tomar a mesma forma…
Você pode ter muitos amores desse como “pouco”, abraçar e beijar, mas um Amor, um Amor mesmo é algo que permanece…
Esta foto foi tirada por alguém tão apaixonado e com tanto Amor no coração… que de uma singela cereja e alguns pensamentos… percebeu que aquele momento era deveras incompleto, e que o que mais queria é seu Amor ali ao seu lado, ou pelo menos na poltrona azul ali da frente…
Sinceramente…
…