Saiba mais sobre a rede D’Or, maior grupo privado de saúde do país, que administra hospital que pegou fogo no Rio

Rede D'Or foi criada pelo cardiologista Jorge Moll, denunciado por contratos irregulares que somam R$ 1 bi , e já teve em sua vice-presidência o médico Sérgio Cortez, ex-secretário de saúde de Sergio Cabral, que participou da "farra dos guardanapos" em Paris e chegou a ser preso na Lava Jato

Incêndio atinge prédio do Hospital Badim, no bairro do Maracanã, zona Norte da cidade. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Por Luisa Fragão.

Criada no Rio de Janeiro no final dos anos 70, em um contexto de falta de opções de atendimento para a classe rica da zona sul carioca, a Rede D’Or conta atualmente com 45 hospitais e mais de 40 clínicas oncológicas, sendo o maior grupo hospitalar privado do país. É em uma das unidades da bandeira Star, a mais sofisticada da rede D’Or, que o presidente Jair Bolsonaro (PSL) se recupera de uma cirurgia para corrigir uma hérnia incisional. Apesar do luxo, foi em um dos hospitais da rede que um incêndio de grandes proporções tirou a vida de 11 pessoas nesta semana, devido a um curto-circuito na parte mais antiga do prédio.

Devido a seu crescimento no segmento premium de saúde, atendendo apenas um público seleto que corresponde ao topo da pirâmide social, a rede D’Or entrou na disputa cada vez mais acirrada com outros hospitais do mesmo patamar por profissionais de prestígio. A transferência recente do cirurgião Antonio Luiz Macedo, que trocou o o Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, pelo do Vila Nova Star, da Rede D’Or, onde comandou a cirurgia de Bolsonaro, foi feito às custas de um contrato milionário de cinco anos – ao estilo de jogadores de futebol -, além de honorários de consultas, cirurgias e outros benefícios.

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Bolsonaro, sua equipe e seus familiares estão em uma ala separada só para eles no oitavo andar do prédio de luxo do Hospital Vila Nova Star. O presidente tem na TV acesso ao Première Futebol Clube, a plataforma de pay-per-view do Campeonato Brasileiro. Os dois familiares que o acompanham, a primeira-dama Michelle e o filho Carlos, têm um quarto cada um.

A abertura do hospital onde Bolsonaro fez sua cirurgia fez com que a rede D’Or agravasse ainda mais a sua guerra com a Amil, controlada pelo grupo estadunidense UnitedHealth, que é o maior operadora de planos de saúde do país. Hospitais da rede no Rio e em São Paulo estão interrompendo o atendimento a usuários do plano de saúde, seja por decisão da operadora seja por iniciativa da Rede D’Or. A meta da rede é atender clientes apenas com planos de saúde de alto escalão.

Jorge Moll
Por trás desse poderoso império está o cardiologista Jorge Moll, fundador da empresa e principal ator da mercantilização na área da saúde. Denunciado por participar de um grupo que teria fraudado contratos na área da saúde, com valores que chegam a R$ 1 bi, em um esquema montando para beneficiar a Organização Social (OS) Pró-Saúde, Moll viu sua companhia crescer mesmo nos anos de recessão, passando de um faturamento de 126,5 milhões de dólares, em 2009, para 1,96 bilhão, em 2018.

Na ação, o grupo teria sido beneficiado pelo médico Sérgio Cortêz, ex-secretário de saúde do governo Sérgio Cabral, no Rio de Janeiro, que foi abrigado na vice-presidência da empresa após deixar o cargo público. Cortêz foi demitido após ser preso pela operação Lava Jato em março de 2017, justamente por ter repassado de forma irregular à Rede D’or ao menos R$ 300 mil quando era secretário de Cabral.

O ex-secretário ficou conhecido por participar da chamada “Farra dos Guardanapos”, festa feito por Cabral em um restaurante em Paris com empresários que teriam pago propina em seu governo.

Mirando um público que não se abala com a crise, Rede D’Or anunciou recentemente um investimento de 8 bilhões de reais até 2023 em crescimento orgânico, com a construção de mais dez hospitais. Com isso, o número de leitos passará de 7.000 para 10.000.

Por ter uma rede com 45 hospitais no país, o grupo de Jorge Moll tem maior vantagem competitiva, com redução de custos assistenciais e mais recursos para investimentos. Tal cenário vai de encontro aos anseios da política econômica de Bolsonaro de privatizar a estrutura assistencial pública.

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