Por Douglas F. Kovaleski, para Desacato. info.
As queimadas que destroem áreas verdes do Brasil há mais ou menos duas semanas, sobretudo nas regiões Norte e Centro-Oeste, têm levado muita gente para os centros médicos. Em Rondônia, o número de crianças que procuram atendimento por motivos respiratórios relacionados às queimadas aumentou muito.
Mas, por que queimadas prejudicam a saúde?
A saúde humana é afetada pelas queimadas porque a fumaça contém diversos elementos tóxicos, principalmente material particulado, formado por vários compostos químicos. Estas partículas são de vários tamanhos e, as menores, quando inaladas, percorrem o sistema respiratório e transpõem a pele que reveste os órgãos internos, atinge os alvéolos pulmonares durante as trocas gasosas e chegando até a corrente sanguínea.
O monóxido de carbono (CO) é o principal poluente das queimadas, quando inalado, chega à corrente sanguínea e se liga à hemoglobina, o que impede o transporte de oxigênio para células e tecidos do corpo. Isso tudo desencadeia um processo inflamatório sistêmico, com efeitos extremamente prejudiciais para o coração e o pulmão, podendo causar a morte.
Os problemas provocados pela inalação da fumaça de queimadas florestais vai desde ardência na garganta, tosse seca, cansaço, falta de ar, dificuldade para respirar, dor de cabeça, rouquidão, lacrimejamento e vermelhidão nos olhos. Esses efeitos variam de pessoa para pessoa e dependem do tempo de contato com a fumaça. Em geral, as pessoas mais afetadas são aquelas que já possuem alguma doença respiratória prévia, agravando condições como rinite, asma, bronquite e Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC). O agravo varia conforme a idade, crianças e idosos, são os que mais sofrem.
As queimadas não só pioram, mas também desencadeiam essas mesmas enfermidades, assim como as cardiovasculares, insuficiência respiratória e pneumonia. As queimadas também provocam alergias e, se considerarmos exposições permanentes à fumaça, aumenta o risco de desenvolvimento de várias formas de câncer.
Não apenas as pessoas que vivem próximas às áreas onde são comuns os incêndios florestais que sofrem com a fumaça. Em situação de queimadas mais intensas, como as que o país vive nas últimas semanas, a névoa provocada pelo fogo pode viajar milhares de quilômetros e atingir outras cidades, estados e até países.
Do ponto de emergencial, pode-se amenizar os efeitos das queimadas na saúde, alguns cuidados são necessários, como evitar, na medida do possível, a proximidade com incêndios, manter uma boa hidratação, principalmente em crianças menores de 5 anos e idosos maiores de 65 anos, e manter os ambientes da casa e do trabalho fechados, mas umidificados, com o uso de vaporizadores, bacias com água e toalhas molhadas. Também é indicado usar máscaras ao sair na rua, evitar aglomerações em locais fechados, e optar por
uma dieta leve, com a ingestão de verduras, frutas e legumes. Fora isso, em caso de urgência deve-se buscar ajuda médica imediatamente.
Do ponto de vista político, é necessário repensar nosso modo de vida. A necessidade irrefreável de crescimento econômico e de cada vez mais consumo e acumulação capitalista, pautadas pela obsolescência programada, produzem uma condição de rápida destruição do meio ambiente do planeta. As energias baratas utilizadas, até então, para proporcionar esse crescimento do capitalismo estão se extinguindo e precisam de uma revisão, mas muito além de começar usar energias sustentáveis, precisamos rever a nossa relação com o meio ambiente, com nosso alimento, com os objetos que precisamos para viver, nossa relação com as outras pessoas.
Enquanto imperar essa inversão de valores onde o ter e o poder estiverem acima do que é essencialmente humano, a terra estará em risco. Muitas vezes o convívio solidário, as trocas desinteressadas, o cultivo do alimento, a relação do humano com as plantas e com os animais, dentro de uma lógica de respeito e liberdade são as chaves simples e viáveis para uma vida melhor.
Pena que nesse período histórico alguns governantes de matiz conservador não consigam perceber a importância do que há de mais simples na vida, esse é o caso de Bolsonaro e seus apoiadores, de Trump e em certa medida de todos os governantes que colocam o desenvolvimento econômico capitalista como prioridade.
Douglas Francisco Kovaleski é professor da Universidade Federal de Santa Catarina na área de Saúde Coletiva e militante dos movimentos sociais.
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