Mato Grosso perdeu quase mil quilômetros quadrados de Cerrado em 2018. Estudo do ICV mostra que apenas uma pequena fração desse desmatamento foi feita com autorização do órgão ambiental, obedecendo a legislação vigente. A taxa de ilegalidade inaceitável e persistente, 95% neste ano, é uma das maiores ameaças à conservação do bioma. Para baixar o estudo Características do desmatamento no Cerrado mato-grossense em 2018 completo em PDF clique aqui.
A reportagem é publicada por ICV, e reproduzida por Amazônia.org, 06-08-2019. De agosto de 2017 a julho de 2018, o desmatamento mapeado no Cerrado brasileiro pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) foi de 6.657 km², uma área equivalente a quatro vezes a cidade de São Paulo. Mato Grosso foi o terceiro estado que mais desmatou o bioma, foram 998 km², respondendo por 15% de todo o Cerrado perdido no Brasil em um ano.
De acordo com a análise das características do desmatamento realizada pelo Instituto Centro de Vida, cerca de um terço de todo desmatamento no Cerrado mato-grossense ocorreu em imóveis rurais cadastrados e em áreas contínuas de mais de 50 hectares, ou seja, facilmente detectáveis via imagens de satélite. “É urgente que o Poder Público tome medidas sérias para conter a ilegalidade. Há medidas possíveis, aliando tecnologia e inteligência para focar a fiscalização nas áreas críticas”, diz Alice Thuault, diretora adjunta do ICV.
Ilegal, privado e de grande porte, além do alto índice de ilegalidade, a análise realizada pelo ICV mostra que os polígonos de desmatamento com mais de 50 hectares respondem por 71% do total. A comparação com o período anterior indica uma tendência de aumento das grandes derrubadas – foram 10% a mais de ocorrências em grandes polígonos.
O cruzamento com os dados do CAR mostra uma predominância do desmatamento em imóveis rurais cadastrados, quase 63%, sendo que mais da metade ocorreu em grandes imóveis, com mais de 1.500 hectares. Os projetos de assentamentos da reforma agrária concentraram 12% do total desmatado. Nas áreas protegidas, que englobam unidades de conservação e terras indígenas, apenas 2%.
“Em comparação com a Amazônia, o Cerrado tem um nível de proteção menor pela lei. Se os acordos setoriais das cadeias que compram commodities não incluírem esse bioma, as taxas de desmatamentos continuarão sendo elevadas”, reflete Ana Paula Valdiones, uma das autoras do estudo.
O estudo também aponta para uma tendência de concentração nas regiões do Araguaia e no Centro Sul do estado. Metade do Cerrado que desapareceu em 2018 estava em apenas 15 municípios, sendo Paranatinga o primeiro do ranking.
As análises foram feitas cruzando os dados de desmatamento no Cerrado fornecidos pelo Inpe (PRODES) com informações disponíveis no Portal da Transparência Ambiental da SEMA, de Mato Grosso e do Cadastro Ambiental Rural.