Rodrigo GTA é o idealizador da Roda Cultural da Central. O rapper está preso desde agosto de 2018
Por Jaqueline Deister
A rima e o verso são as válvulas de escape para muitos jovens da periferia que encontraram na cultura do hip hop uma forma de extravasar e contar sobre a realidade que, por vezes, é invisível para boa parte da população.
Rodrigo Manuel Valin da Silva, conhecido como Rodrigo GTA, é um dos nomes expoentes do cenário carioca. O rapper é morador do Morro da Providência. A comunidade localizada na região central do Rio de Janeiro é considerada a primeira favela do país, guardando muitas memórias da cultura brasileira que vão desde o surgimento de personalidades do samba, como Dona Dodô da Portela, até o ícone da literatura Machado de Assis que passou boa parte de sua infância na área.
Rodrigo GTA é um jovem negro e idealizador da Roda Cultural da Central. O espaço cultural foi lançado em 21 de março de 2018 e logo ganhou destaque entre os agitadores da cultura hip hop. A iniciativa da roda foi ousada e não só levou a rima para a Praça dos Cajueiros, na Central do Brasil, como revitalizou o local que até então estava abandonado pelo poder público, sendo ponto de uso de drogas.
O produtor cultural e amigo de Rodrigo, Celso Barreto, conhecido como Cejota, conta que a própria equipe de produção da Roda, que ocorre toda quarta-feira às 19h, investiu recursos financeiros próprios e mobilizou a comunidade para o processo de transformação do espaço que hoje é um dos principais pontos de lazer dos moradores da Providência.
“A roda cultural é uma mobilização para a pessoas que querem saber ler, escrever, construir uma estrofe, se expressar. Estamos realizando essa construção.Os moradores podem pegar os alimentos e plantar, onde hoje é a plantação era o lixo, então antigamente era muito lixo, cheio de carros abandonados”, afirmou.
Turbulência
Contudo, em agosto de 2018, a Roda Cultural da Central passou por um dos momentos mais difíceis em seus cinco meses de existência. Em primeiro de agosto do ano passado, o idealizador do movimento, Rodrigo GTA, gravou um vídeo para as redes sociais denunciando perseguição policial.
“Estou ali na pracinha, agitando a roda, vem o policial militar, me aborda sem dar bom dia, não estava em local suspeito. Me colocou em suspeito por eu ser negro, veio me abordando, perguntando o que eu estava fazendo no local, eles estavam observando que eu estava varrendo, foi ironia deles me perguntarem o que eu estava fazendo. Estava varrendo a praça pública onde o governo abandonou e a gente fez algo em prol da praça pelos moradores. Eles [polícia militar] estão falando que eu estou botando a roda cultural ali pro tráfico se beneficiar disso, querem me botar de associação ao tráfico para me chamando de traficante. Eu não sou”, denunciou GTA no vídeo.
No dia 30 de agosto o rapper foi preso. De acordo com Cejota, as abordagens dos policiais se tornaram frequentes e na terceira houve a prisão.
“[O policial] abordou o Rodrigo querendo saber a identidade, Rodrigo falou com ele que não precisava disso porque ele já o abordou outras vezes. Nessa terceira, o policial o agrediu verbalmente e fisicamente até o terminal. Ele foi conduzido à 4° DP [Delegacia de Polícia] da Presidente Vargas e foi preso por desacato, resistência e lesão corporal, mas na verdade foi o contrário”, contou o produtor cultural.
O caso de GTA se agravou em março de 2019. O rapper passou a responder por mais um processo desta vez por roubo à mão armada. Rodrigo foi acusado por praticar um assalto no dia cinco de março de 2018 na rua Primeiro de Março, no Centro, contra duas pessoas. A defesa do produtor alega que não existem provas suficientes para colocá-lo na cena do crime, contudo, o rapper foi condenado à prisão em regime fechado. Após uma apelação criminal teve a pena de sete anos e dois meses, reduzida para seis anos e cinco meses.
No próximo dia 24 de junho, GTA terá uma audiência referente ao crime de resistência qualificada. Segundo a Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro que cuida do caso, Rodrigo está preso pelo processo de roubo à mão armada, que ainda cabe recurso da defesa.
Solidariedade
Uma campanha chamada “liberdade GTA” foi lançada desde a sua prisão. A mobilização além de denunciar o caso de Rodrigo também tem levantado recursos para a família do produtor cultural e a sua defesa.
A prisão de Rodrigo GTA não é a única que tem causado indignação no setor da cultura periférica do Rio. Em março deste ano, o DJ Rennan da Penha, nome conhecido no funk carioca, foi condenado a seis anos e oito meses de prisão por associação ao tráfico. O idealizador do Baile da Gaiola nega a acusação.