Dia do meio ambiente e nada a comemorar
Nesse 05 de junho comemoramos o Dia Mundial do Meio Ambiente, dia data para prestarmos atenção em números preocupantes em nível global. Ontem foi publicado um relatório da Breakthrough National Centre for Climate Restoration, uma ONG australiana, com dados estarrecedores: mais de um bilhão de pessoas deslocadas por conta do clima, dois bilhões sem água, produção de alimentos em colapso, 20 dias de calor letal por ano, aquecimento global de três graus Celsius, ecossistemas encolhidos ou destruídos.
Por Douglas Kovaleski, para Desacato.info.
O relatório afirma que as mudanças climáticas podem representar uma ameaça real à vida no planeta até o ano 2050. Segundo o relatório, o ecossistema planetário e humano vai atingir um ponto de saturação até a metade do século. Se não forem feitas mudanças radicais na emissão de poluentes, está previsto que grande parte do planeta se torne inabitável, com grandes alterações no contexto geopolítico. A única saúde para a preservação da vida e da saúde humana e de todo o planeta é criar uma mobilização focada em construir rapidamente um sistema industrial de emissão zero, defende o documento.
Ontem também, o Conselho Consultivo das Academias Europeias de Ciências afirmou que a mudança climática representa uma grande ameaça à saúde humana e já tem impacto global ao espalhar doenças infecciosas e exacerbar os problemas de saúde mental. Pequenos aumentos na temperatura podem levar a problemas cardiovasculares e respiratórios; mosquitos transmissores de doenças, comuns em áreas tropicais, estão se espalhando até pela Europa; temperaturas altas, incêndios e poluição desencadeiam problemas como transtornos de estresse pós-traumático, ansiedade e depressão.
Por aqui as preocupações do governo Bolsonaro caminham no sentido oposto à melhoria do meio ambiente, pois sua candidatura tem forte compromisso com o agronegócio. Dessa forma, tem atuado no sentido de atender as demandas desse setor, liberando o uso de agrotóxicos, enfraquecendo a fiscalização da condição de trabalho dos trabalhadores rurais, diminuindo os recursos dedicados ao IBAMA e demais órgãos fiscalizadores, o que incentiva a impunidade e o desmatamento e por último alterando aos poucos, toda a legislação que define os percentuais de reserva legal obrigatória que as áreas precisam ter e diminuindo a distância de reserva ao redor das nascentes e córregos.
No Rio de Janeiro ontem, houve manifestação contra o ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles. Principalmente contra o ataque do ministro contra o Fundo da Amazônia, que acumula doações de US$ 1,2 bilhão contra o desmatamento no bioma. Salles também foi criticado por diminuir a participação da sociedade civil no Conselho Nacional do Meio Ambiente.
Saúde não combina com maus tratos ao meio ambiente, ainda mais se falarmos de uma forma ampla do meio ambiente. Nosso presidente pretende aumentar o número de pontos para a suspensão da CNH. liberar o uso de armas de fogo, retirar o exame toxicológico dos motoristas de cargas perigosas, retirar os radares de controle de velocidade nas estradas. A barbárie se aproxima a passos largos. a competitividade inerente ao neoliberalismo temperada com truculência liberal da direita no poder está deixando o meio ambiente cada vez pior para o bem viver. A luta para reverter essa direção deve ser coletiva e com orientação política clara pelo fim do capitalismo. Ou derrubamos o capital ou seremos exterminados por ele.
Imagem tomada de: Greenpeace USA
Douglas Francisco Kovaleski é professor da Universidade Federal de Santa Catarina na área de Saúde Coletiva e militante dos movimentos sociais.
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