90 anos do modernismo

Por Paulo Bogler.

De um lado, a produção artística ligada aos padrões e conceitos vigentes na Europa. De outro, um grupo de artistas dispostos a trilhar um caminho próprio, genuinamente brasileiro. Esta era a atmosfera do período em que aconteceu a Semana da Arte Moderna, ocorrida há noventa anos, entre os dias 13 e 18 de fevereiro de 1922, no Teatro Municipal de São Paulo. 

O evento marcou definitivamente o início do modernismo no Brasil, inaugurando uma ampla transformação no processo de produção cultural, especialmente, pela aproximação dos artistas e suas obras aos anseios e interesses populares, da gente simples que até então permanecia praticamente excluída do acesso e da representação nas composições artísticas.

O modernismo que surge com a Semana de 22 introduziu o índio, o operário, a cultura local e no nacionalismo nas obras de artes, além das grandes inovações nos métodos e técnicas, onde os autores passaram a realizar formas de composições livres.

O grupo de modernos era formado por Oswald de Andrade, Mário de Andrade, Anita Malfatti, Di Cavalcanti, Manuel Bandeira, Plínio Salgado, Heitor Vila-Lobo, Menotti del Picchia, Guilherme de Almeida, Vicente do Rego Monteiro, Graça Aranha, Sergio Buarque de Hollanda, Eugênia Álvaro Moreyra, Vitor Brecheret, entre outros. A escolha da data para a Semana da Arte Moderna se deu pela coincidência com as comemorações do centenário da independência brasileira. A ideia era promover a liberdade em todos os sentidos e romper com o atrelamento político, social e cultural em todas as dimensões.

Inicialmente, os modernos brasileiros sofreram grandes resistências, sendo questionadas quanto à capacidade técnica, estilística e estética. Alguns setores da crítica, da intelectualidade e de setores artísticos, chamavam os integrantes do grupo de modernistas de desvairados e borradores de tela. Na escadaria do Teatro Municipal, o poeta Mário de Andrade foi hostilizado enquanto explanava sobre o seu conceito de artes plásticas.

Durante todos os dias da Semana de 22, foram oferecidos saraus, leituras literárias, músicas, danças, palestras e debates. No dia 14, durante a leitura de poemas e textos em prosa de cunho modernista, os autores foram vaiados e ofendidos. Era o sinal do surgimento de uma vanguarda artística e um novo comportamento dos produtores culturais.

Os temas e conceitos lançados pela Semana de Arte Moderna foram censurados por vários veículos de imprensa. A burguesia paulistana proibia qualquer menção sobre o tema na presença de crianças e jovens. A propagação dos ideais modernistas se deu por meio de publicações com a Revista Antropofágica e a Revista Klaxon, além de movimentos como o Movimento Pau-Brasil, Grupo da Anta, Movimento Antropofágico, entre outros.

A Semana de 22 encontrou um Brasil ainda em estágio inicial de urbanização. Aos poucos, os brasileiros iam deixando o campo e se abrigando nas cidades. A burguesia urbana, seus negócios e seus lucros se ampliavam e vão se consolidando os primeiros núcleos operários. Neste momento, entretanto, a arte a cultura ainda respiravam os ares do passado, as obras eram elitistas e o acesso às produções era restrito aos endinheirados.

Mas os primeiros modernistas brasileiros resistiram e o movimento de ruptura, irreverência e ousadia influenciou o cenário cultural do país nas décadas seguintes. Mais ainda, os padrões estéticos defendidos na Semana de 22 estão ligados à arte da atualidade. Foi graças a um punhado de sonhadores que os bens artísticos brasileiros ganharam outra dimensão, tanto no conceito com na circulação, com obras que passaram a ser distribuídas pelo mundo, marcadas por características nacionais.

A Semana da Arte Moderna não encerra em si todo o movimento modernista do país. Entretanto, neste evento, há nove décadas, a arte rompe deu sinal de rompimento com o academicismo e o elitismo. Foi um momento relevante para que o povo brasileiro passasse a se ver nas representações artísticas e denúncia da absoluta alienação das camadas privilegiadas da sociedade em relação à realidade social do Brasil.

Fonte: Guatá

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