Em meio à ofensiva internacional contra o governo de Nicolás Maduro, na Venezuela, a nomeação de Elliott Abrams como enviado especial dos Estados Unidos ao país sul-americano indica a intenção do governo de Donald Trump de adotar estratégias ainda mais agressivas para defender seus interesses políticos e econômicos no país.
Abrams é uma figura conhecida de gestões republicanas anteriores dos EUA. Apesar de ter ocupado cargos com a suposta missão de defender a liberdade e os direitos humanos, serviu aos governos de Ronald Reagan e de George Bush – pai e filho – auxiliando na coordenação de golpes de Estado, intervenções militares e ocultação de massacres no Sul Global.
Justificando a nomeação de Abrams, o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, declarou que “a paixão de Elliott pelos direitos e liberdades de todos os povos fazem dele a indicação ideal e um nome valioso e oportuno a se somar” às políticas dos EUA para a Venezuela.
Em entrevista coletiva após a nomeação de Abrams, Mike Pompeo foi evasivo quanto a quais seriam as atribuições do novo enviado especial. “Elliott será responsável por todas as questões ligadas a nossos esforços para restaurar a democracia na Venezuela. É um desafio global. Existem diversas dimensões no que queremos auxiliar os venezuelanos a conquistar a democracia lá e ele ficará responsável por liderar esse esforço”, afirmou.
“Não saberia dizer para onde ele [Abrams] iria”, continuou Pompeo. “Não me surpreenderia se ele acabasse viajando para a região, mas o caminho será guiado pelas demandas do povo venezuelano e pela forma como podemos auxiliá-los a chegar ao desfecho que os Estados Unidos querem que eles cheguem”, disse a jornalistas na semana passada.
Não está claro, no entanto, como isso aconteceria, pois, após a tentativa de golpe por Guaidó no dia 23, Maduro anunciou o rompimento das relações diplomáticas e políticas com os Estados Unidos e deu 72 horas para o corpo diplomático estadunidense abandonar o país. O governo Trump afirmou que não responderia ao ultimato por não reconhecer a autoridade do mandatário sul-americano, mas começou a repatriar funcionários não essenciais do país.
O secretário de Estado dos EUA e o novo enviado especial para a Venezuela participaram de uma reunião do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas no fim de semana e, na terça-feira (29), Abrams e o vice-presidente dos EUA, Mike Pence, se reuniram com opositores de Maduro na Casa Branca, segundo o site Democracy Now!.
Crimes, escândalos e ingerências
Nos anos 80, Abrams defendeu o ditador guatemalteco Efraín Ríos Montt, considerado um dos mais sanguinários da América Latina e condenado por genocídio e crimes de lesa humanidade em 2013.
Em outro escândalo, o neoconservador chegou a ser condenado, em 1991, por ocultar informações do Congresso de seu país a respeito do apoio militar estadunidense ao movimento contrarrevolucionário na Nicarágua, incluindo a venda ilegal de armas ao Irã para financiar milícias direitistas que queriam derrubar o governo da Frente Sandinista de Libertação Nacional. No ano seguinte, no entanto, recebeu perdão de George H.W. Bush pelos crimes.
O novo designado da política externa estadunidense também está envolvido na ocultação de um massacre cometido por militares treinados pelos EUA em El Salvador. Em 1981, Abrams foi nomeado como secretário de Estado para direitos humanos e assuntos humanitários logo após a carnificina que deixou mais de 800 mortos, encampando a contranarrativa de que os relatos de crimes contra a humanidade “não tinham credibilidade” e as denúncias nada mais eram que propaganda de guerrilhas contrárias ao governo.
A participação de Abrams na ingerência dos EUA na Venezuela também não é novidade. Na tentativa frustrada de golpe de Estado contra Hugo Chávez em 2002, o semanário britânico The Observer denunciou a ligação entre o líder golpista Pedro Carmona e o governo Bush. O nome de Elliott Abrams aparecia entre os representantes dos EUA em uma série de reuniões que precederam o ataque ao governo bolivariano. O governo americano negou as alegações, mas fontes da Organização dos Estados Americanos (OEA) ouvidas pelo periódico na época afirmaram que não só havia de fato uma trama para dar um golpe na Venezuela, como foi Abrams quem “deu o ok” para deflagrar a operação.
Já nesta nova ofensiva contra Nicolás Maduro, o governo Trump não esconde o apoio aos ataques liderados pelo opositor Juan Guaidó.
*Com informações de The Intercept, Peoples Dispatch e Democracy Now!