Em oito países em conflito, 56 milhões de pessoas precisam urgentemente de doações de comida e de assistência em meios de subsistência, revela um relatório divulgado na segunda-feira (28) pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) e pelo Programa Mundial de Alimentos (PMA).
Para o chefe da FAO, o brasileiro José Graziano da Silva, populações em zonas de guerra vivem com taxas de fome “inaceitáveis no século 21”.
A pesquisa das duas agências da ONU foi preparada para o Conselho de Segurança, que adotou em maio de 2018 uma decisão histórica sobre a prevenção da fome em regiões de conflito. A resolução 2417 do organismo condena o uso da fome como ferramenta de guerra e pede que as partes de confrontos armados minimizem o impacto de ações militares em estruturas e redes de produção e distribuição de alimentos.
O relatório Monitoramento da Segurança Alimentar em Países com Situações de Conflito mostra que, ao final de 2018, conflitos agravaram as necessidades alimentares de populações no Afeganistão, República Centro-Africana, República Democrática do Congo, Sudão do Sul e Iêmen. As consequências devem se prolongar por 2019.
Em território afegão, por exemplo, se doações urgentes de comida não forem fornecidas, a porcentagem de moradores das zonas rurais que vão viver com déficits alimentares agudos deverá atingir 47% — ou 10,6 milhões de pessoas — até março.
Na Bacia do Lago Chade, incluindo o nordeste da Nigéria e as regiões de Chade e Diffa, que vivem com a presença do Boko Haram, a fome deve piorar durante a baixa estação produtiva deste ano (junho-agosto de 2019). Segundo a FAO e o PMA, estima-se que 3 milhões de pessoas vão enfrentar fome aguda.
No Sudão do Sul, onde conflitos civis persistem por mais de cinco anos, a baixa temporada produtiva deve começar mais cedo do que o normal em 2019, de acordo com a publicação das agências da ONU. Com isso, mais de 5 milhões de pessoas deverão precisar de assistência humanitária urgente para ter o que comer.
Na República Centro-Africana, o conflito armado foi o principal motor da fome em 2018, deixando 1,9 milhão de pessoas com graves defasagens em sua dieta.
Também no ano passado, durante o segundo semestre, a República Democrática do Congo teve o segundo maior número de pessoas com insegurança alimentar aguda (13 milhões de indivíduos) no mundo. A causa foi o agravamento do conflito armado.
“Eu recomendo fortemente que você tenha em mente que, por trás dessas estatísticas frias, estão pessoas reais experimentando taxas de fome que são simplesmente inaceitáveis ??no século 21”, afirma Graziano da Silva no prefácio do relatório.
Já o diretor-executivo do PMA, David Beasley, cobra melhorias no acesso de agências humanitárias às populações. “Precisamos de um acesso melhor e mais rápido em todas as zonas de conflito, para que possamos chegar a mais civis que precisam da nossa ajuda. Mas o que o mundo precisa, acima de tudo, é o fim das guerras”, diz o dirigente.
O relatório destaca que a violência contra os trabalhadores humanitários está crescendo, o que muitas vezes força as organizações a suspender suas operações e privar as populações vulneráveis ??de assistência. Em 2018, profissionais de ajuda e instalações foram atacados em todos os países analisados pelo levantamento.
A pesquisa reitera que o crescente número de conflitos prolongados está criando níveis de fome inaceitáveis e sem precedentes no mundo.
A guerra de três anos do Iêmen é um exemplo da necessidade urgente de cessar as hostilidades para enfrentar a falta de comida. O relatório afirma que as partes em conflito desconsideraram o status de proteção das instalações humanitárias. Isso transformou a expansão das operações de assistência num esforço difícil e perigoso.
O Monitoramento da Segurança Alimentar em Países com Situações de Conflito é o quinto relatório produzido pela FAO e pelo PMA para o Conselho de Segurança desde junho de 2016. Além de orientar o organismo com informações atualizadas sobre a relação em confrontos armados e fome, a publicação faz parte de um esforço mais amplo das agências da ONU, da União Europeia e de outros parceiros para monitorar as crises alimentares globais.
Acesse o relatório na íntegra clicando aqui.