Por James Ratiere, para Desacato. info.
Era preto e branco, filhote ainda, parecia com o Frajola, talvez fosse esse seu nome. O menino adorava gatos, aquele era o terceiro que tinha logo depois do Manhoso, um gato cinza listrado que desapareceu.
Manhoso, Dengoso e talvez Frajola, Dengoso, viria depois do ocorrido, aquele que o acordou puxado da cama e a fronte rasgando por causa da quina.
Gritos de choro e raiva desesperados. Plofth. Miau, se ouvia? E o olhar turvo não conseguia ver o que acontecia. Dor de cabeça, sangue escorrendo, choro. O que tá acontecendo?
O gato parou de miar, mas o plofth continuava, ele perguntou porque e ouviu cala boca!
Entendeu, o padrasto batia, a mãe apanhava, e o gato era a cinta. Não mais o gato, apenas um saco de pêlo mole de boca aberta sangrando.
Por que ele matou o gato? Veio a pergunta depois, por que ele batia na mãe? Isso era amor? Ele não queria nunca casar, não gostava de bater em ninguém, gostava de gostar e gostava do padrasto.
Queria ter super poderes para fazê-lo parar, defender a mãe e o pesadelo acabaria.
Por que ele te bate mãe? A senhora fez arte?
Você não vai entender meu filho, apenas as coisas são como são.
Mas ele é meu pai, porque vamos embora?
Por que não dá mais pra ficar aqui.
Ele ficou triste, deixara os bonecos e as roupas preferidas. Pensava que ia passar uns dias com os primos, agora sabia que não voltaria mais para seu quarto, sua cama alta, seus brinquedos, chorou.
A mãe o abraçou e chorou também, o gato fora de presente, e agora não tinha mais nada.
Recomeçar, voltar para casa da vó, fazer novos amigos, isso doía, mas aprendeu, quando se ama a pessoa tenta melhorar para si a para o outro. O padrasto não abria mão da bebida que o fazia ficar violento, acabou perdendo o amor de sua vida e tempos depois uma cirrose lhe deu o mesmo fim do gato.
*Da Coletânea “O perfume das Flores que senti”
