A Estação Primeira Mangueira, a tradicional verde e rosa do carnaval carioca, traz a memória dos heróis brasileiros marginalizados para a Sapucaí. Dos versos de seu samba-enredo, História para ninar gente grande, sobram referências à história oficial que é colocada em contraste com as invasões aos territórios indígenas, às violações às mulheres, à população negra e personagens marcantes como Dandara e Marielle. Por fim, fazem memória a “Quem foi de aço nos anos de chumbo”.
Imagem divulgação Estação Primeira Mangueira
Em outros tempos bicudos, Oswald de Andrade afirmava que “A alegria é a prova dos nove!”. Se nossa atual política causa espécie mundo afora, o Carnaval continua sendo nosso apogeu estético e, por que não, político, onde as feridas de um país machucado sangram sob os pés dos passistas, que no esplendor de sua arte popular revelam o Brasil da diversidade étnica, religiosa e cultural.
Ver clip no Youtube
História para ninar gente grande – Samba-enredo da Mangueira 2019
Mangueira, tira a poeira dos porões
Ô, abre alas pros teus heróis de barracões
Dos Brasil que se faz um país de Lecis, jamelões
São verde e rosa as multidões
Brasil, meu nego
Deixa eu te contar
A história que a história não conta
O avesso do mesmo lugar
Na luta é que a gente se encontra
Brasil, meu dengo
A Mangueira chegou
Com versos que o livro apagou
Desde 1500
Tem mais invasão do que descobrimento
Tem sangue retinto pisado
Atrás do herói emoldurado
Mulheres, tamoios, mulatos
Eu quero um país que não está no retrato
Brasil, o teu nome é Dandara
E a tua cara é de cariri
Não veio do céu
Nem das mãos de Isabel
A liberdade é um dragão no mar de Aracati
Salve os caboclos de julho
Quem foi de aço nos anos de chumbo
Brasil, chegou a vez
De ouvir as Marias, Mahins, Marielles, malês