Nós, Estudantes em Solidariedade ao Povo Palestino – Universidade de São Paulo (ESPP-USP) repudiamos a realização do curso coordenado por Gabriel Steinberg “Para entender o Oriente Médio e o conflito israelo-palestino”, ministrado por Samuel Feldberg.
Entendemos ser essencial que a Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas impulsione cursos e debates acerca do tema de Israel e Palestina para que se tenha uma maior percepção e entendimento dos conflitos que acontecem no Oriente Médio e como o Brasil possui relação com ela. No entanto, discordamos fundamentalmente do conteúdo apresentado por este, assim como pelo que os responsáveis pelo mesmo representam e defendem publicamente, como conteúdos com teor discriminatório ao povo palestino.
Ao colocar o Sionismo como um projeto que deu certo e a Palestina como estagnada, defendendo o primeiro – assim como está nos objetivos do curso – tenta-se mascarar a realidade palestina que enfrenta um cenário de colonização e limpeza étnica, com políticas segregacionistas contra os mesmos dentro dos territórios de 48.
Enquanto Estudantes em Solidariedade ao Povo Palestino, repudiamos esse curso e encorajamos nossos colegas a não patrocinarem esse tipo de conteúdo, visto que esse curso representa a ideia hegemônica do Sionismo como um projeto salvador – posicionamento que a ESPP se coloca radicalmente contra. Entendemos o Sionismo, na Palestina, como um projeto colonizador que continua em andamento desde o começo do século XX, com a constante e cotidiana expulsão dos palestinos de suas terras, além da sistemática violação dos direitos humanos destes. Acreditamos que independentemente do governo que se estabelece – mais ligado a direita ou esquerda – a própria manutenção de um Estado de caráter colonial, que se deu a partir de genocídios, destruição de vilas e expulsão dos palestinos, representa e mantém a condição de guerra e apartheid no local.
Diante disso, defendemos que a Universidade de São Paulo, e em especial a Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, se constitua como um espaço de combate às ideias de apartheid e colonização e que não corrobore com instituições ou discursos que violem os direitos de qualquer povo, inclusive o povo palestino. Por isso, levantamos três bandeiras mínimas e fundamentais: “Pelo Direito de Retorno dos Refugiados Palestinos, pelo fim da Ocupação e pela igualdade de Direitos dos palestinos em Israel”.
Por fim, gostaríamos de enfatizar, enquanto ESPP, que nos colocamos veementemente contra qualquer tipo de manifestação e pensamento antissemita. Ao repudiar o projeto sionista, repudiamos um projeto de colonização e um projeto que, em suas práticas, é abertamente racista. Nunca nos colocaremos ao lado de qualquer força, organização ou discurso que se assemelhe ou, de fato, seja antissemita. Levantamos claramente um de nossos princípios básicos: “Antissionismo sim, antissemitismo jamais!”.
Boicotar o apartheid sul-africano tinha a ver com ditadura militar? Bem pelo contrário. Um curso do ponto de vista do opressor sionista não conta a verdade das vítimas palestinas.
Se os estudantes são contra este curso que criem outro que defensa as suas ideias. Boicotar e censurar um curso por discordar de seu conteúdo é uma manifestação fascista de intolerância só vista antes na ditadura militar.