A ativista sueca Elin Ersson estampou manchetes no mundo inteiro após protestar dentro de um avião, em Gotemburgo, para impedir a deportação de um cidadão afegão. A ação havia sido planejada após família de Ismael Khawari, de 21 anos, entrar em contado com a rede da qual ela faz parte.
Munida de um bilhete para o voo, Ersson esperava encontrar no avião o jovem e outro afegão, mais velho, que também deveria ser deportado. Khawari, no entanto, não estava a bordo daquele voo, mas apenas o outro homem, de 52 anos, que estava sob a vigilância de um oficial de imigração.
Ersson, de 21 anos, seguiu com o protesto, recusando-se a sentar para impedir a decolagem do avião e filmando a ação com o celular. O vídeo, em que a jovem argumenta que o homem provavelmente corria risco de vida no Afeganistão, viralizou na internet.
O jovem afegão que Ersson queria ajudar acabou sendo deportado, num voo de Estocolmo para Cabul, no dia seguinte ao protesto. Em entrevista à Deutsche Welle, ele falou sobre sua vida na Suécia e o tempo que passou na prisão.
Deutsche Welle: O vídeo do protesto de Ersson, planejado inicialmente para impedir a sua deportação, se tornou viral. Você conhece a ativista pessoalmente?
Ismael Khawari: Não a conheço, mas agradeço pelo esforço. Infelizmente não a conheci pessoalmente, mas ela mostrou ser muito humana. Fiquei sabendo do ocorrido somente aqui em Cabul. Acredito que minha família estava em contato com ela e achou que eu seria deportado naquele avião. Meu celular estava desligado.
Sua família mora na Suécia?
Minha mãe e minhas duas irmãs moram na Suécia. Nasci no Afeganistão, mas não sei onde. Quando eu tinha seis anos, nós fugimos para Meched, no Irã, onde vivi por anos antes de ir para a Europa para encontrar minha família.
Você conseguiu se integrar na Suécia? Como era sua vida lá?
Não podia trabalhar na Suécia e também não aprendi nada. Apesar de ter vivido bastante tempo lá, não falo sueco. Tive muitos problemas psicológicos e não saía.
Por que você foi levado para a prisão de deportação?
Na Suécia, ficava somente em casa. Quando pela terceira vez meu pedido de asilo foi negado, fui para a Alemanha tentar pedir asilo lá. Depois de alguns meses, percebi que não ia adiantar e voltei para ficar perto da minha família. Assim que retornei, fui preso.
Fiquei oito meses na prisão, primeiro em Malmö, depois em Gotemburgo e, em seguida, em Estocolmo. Foi horrível. Fui muito mal tratado e quase não aguentei. É horrível e quase assustador. Se chama de penitenciária de deportação, mas é como uma prisão onde tratam as pessoas como gado. Os guardas são racistas e não ajudam ninguém. Eles só ficavam sentados e jogando seus joguinhos.
Uma manhã, finalmente, vieram me buscar e me levaram para o aeroporto. Não cansei de repetir que minha família estava na Suécia e que não poderia ir embora, mas não me escutaram.
Você tem amigos ou conhecidos no Afeganistão?
Não conheço ninguém aqui, a não ser um jovem que conheci na penitenciária de deportação. Não sei para onde ir agora.