Por Elisa Maria
No dia 23 de junho, a cantora Elza Soares completou 88 anos. Comemoramos sua vida escutando o álbum – (re)nascimento “Deus é mulher”. Em tempos tão temerosos, em que foi golpeada a primeira presidenta mulher do país e em que temos que gritar “Marielle Vive”, Elza Soares, e tudo o que ela significa, amplifica vozes de resistência contra a intolerância religiosa, contra o racismo, o machismo e a LGBTfobia e anuncia possibilidades de beleza, leveza, liberdade, samba, frevo, vida. Em “Deus é Mulher”, Elza Soares segue nos mostrando caminhos para a afirmação de uma identidade brasileira, formada por mil nações, forte e festeira.
É o povo brasileiro que fala de dentro da voz da Elza, direto do “país da fome”, que não é só de comida, com certeza, mas de novas relações sociais, sobretudo. Elza faz sua parte. Em meio a um mercado da música marcado pela presença estrutural de homens brancos, ela não só participa mais fortemente da construção desse álbum, a começar pela escolha das músicas, como abre espaço para outras mulheres. Da mesma forma, a banda agora não é só composta por homens e se somam Maria Beraldo no clarinete e no clarone e Mariá Portugal, na bateria e percussão.
Há ainda a superespecial e potente participação do grupo percussivo composto apenas por mulheres Ilú Obá de Min. A obra é coletiva, e Elza é a mulher. E a mensagem que capitaneia é não deixar ninguém de fora, é acolher as mulheres, que não precisam mentir dizendo que não dói; é não esperar, ser nós por nós, coragem, voz e grito! E pros mais resistentes, Elza sabe que ninguém vai sair incólume, que sua mensagem vai “pingar até em quem já me cuspiu, viu?!”.
Deus é Mulher e Elza é esperança de que tudo pode melhorar a partir do nosso próprio levantar, enquanto mulheres, negras, povo brasileiro!