Os Estados Unidos se auto-proclamam “mundo livre”, mas isso nada mais é do que ideologia. Liberdade mesmo só para um pequeno grupo que conforma a elite econômica e de poder. Para os demais, o que sobra é a submissão a um modo de vida marcado pela exploração. E, se entre os “demais” estiverem os imigrantes, que chegam todos os dias da América Latina ou de países árabes e asiáticos, a situação é ainda pior.
Na última semana correu o mundo a cena dramática de crianças latino-americanas violentamente separadas dos pais na fronteira com o México e que estão confinadas em jaulas. Segundo o Departamento de Segurança Interna dos EUA já são quase quatro mil crianças nessa condição, num processo que começou em 2016 e que só nos últimos meses realizou perto de duas mil separações.
Essa norma de separar filhos dos pais faz parte da política de tolerância zero anunciada pelo procurador geral Jeff Sessions, que aprofundou as detenções a partir de abril do ano passado. Nos EUA qualquer família que tente passar a fronteira, sendo capturada, é considerada criminosa e a partir daí os adultos são levados para a prisão e as crianças para esses centros de detenção. Mas, essa prática não acontece apenas com que tenta entrar de maneira ilegal. Mesmo aquelas famílias que chegam na fronteira e pedem asilo, são desmembradas e separadas. Uma decisão desumana e dramática, que só aumenta o sofrimento de quem já penou todas as penas no processo de travessia.
Ao serem divulgadas as imagens das crianças detidas dentro de jaulas o presidente Donald Trump se manifestou dizendo que a culpa de tudo isso não é de seu governo, mas dos democratas, que foram os que garantiram a aprovação da lei que separa as famílias e que são eles os que precisam revogar essa norma. E que, enquando a norma exisitir, será cumprida.
Na verdade mais um jogo de cena de Trump uma vez que o Congresso estadunidense atual tem maioria republicana, logo, se realmente quiser, pode acabar com essa prática que amplia ainda mais o sofrimento dos migrantes.
O procurador geral Jeff Sessions, que tem sido leonino na aplicação dessa lei, declarou que cumprir a lei é um mandamento de deus e citou uma encíclica de Paulo aos Romanos, na qual o apóstolo afirma que é preciso obedecer a lei do governo porque deus foi quem ordenou ao governo seus propósitos. Ou seja, a Casa Branca também está tomada por fanáticos ou “espertinhos” que usam da Bíblia para fazer valer suas atrocidades. Fossem mesmo cristãos, seguiriam os mandamentos de Jesus que ensinou sobre o amor ao próximo.
A fala do procurador, usando a escritura sagrada dos cristãos para justificar as ações desumanas provocou um grande debate nos Estados Unidos envolvendo religiosos de vários credos e, claro, a maioria deles se colocando completamente contrários ao uso da palavra sagrada, considerando as práticas governamentais como imorais e anti cristãs.
Mas, apesar do burburinho o governo de Donald Trump segue ampliando os centros de detenção para crianças, alegando que já está insuficiente o espaço. A notícia que circulou esta semana é de que se iniciará a construção de uma cidade de lona para encarcerar mais 450 crianças recolhidas em Tornillo, no Texas.
Pelo visto, o deus de Trump não está nem aí para coisas como solidariedade, humanidade, generosidade, partilha. Os imigrantes empobrecidos que chegam de qualquer parte do mundo são tratados como baratas, esmagados e devolvidos. E, não bastasse toda a desgraça de ver o sonho de uma vida melhor se desfazendo, ainda têm suas famílias destruídas e separadas, muitas vezes para sempre.
O mundo livre mostrando sua verdadeira cara. A mesma cara que o governo teocrático de Israel mostra ao mundo, igualmente encarcerando e torturando crianças. Tudo em nome de deus.
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Elaine Tavares é jornalista.