Nem sempre foi assim: o PT nasceu e ganhou o poder político com forte apoio da classe média. A falta de comunicação e a despolitização do país fizeram PT e classe média se afastarem um do outro.
Afastaram-se tanto que tornaram-se inimigos. A classe média liderou as “jornadas de junho” de 2013 e, mais tarde, as marchas do impeachment.
A classe média brasileira caminhou tanto para a direita que hoje uma parcela importante dela se identifica com Bolsonaro.
A Lava Jato, por sua vez, é um fenômeno cultural típico de classe média, e tem antecedentes históricos bastante sinistros, mas isso é assunto para outro post.
Um dos desafios do campo progressista, nessas eleições, é reconquistar ao menos a parte mais esclarecida do eleitorado de renda média, convencendo-o de que deve olhar para si mesmo como integrante da classe trabalhadora, pois não vive de renda: assim como qualquer pião de obra, a classe média vive, em sua grande maioria, do suor de seu trabalho.
A classe média ocupa todas as funções liberais, e ter seu apoio é essencial para o exercício do poder. Juízes, procuradores, delegados, políticos, jornalistas, professores, advogados, médicos, oficiais militares, arquitetos, intelectuais, médios ou altos servidores públicos, todos são de classe média e vivem cercados de pessoas de classe média. Não ter o apoio deste setor dificulta muito a desenvoltura das campanhas eleitorais e, posteriormente, a sustentação política dos governos. A não ser que detenha um controle quase absoluto das finanças do país, como tinha o regime venezuelano, onde a exportação de petróleo, monopólio estatal, sustentava a economia nacional, será muito difícil, para qualquer governo, administrar os conflitos políticos sem o apoio de uma parte substancial das classes sociais que controlam a opinião pública.
Quem são os candidatos com potencial para conquistar a classe média nas eleições deste ano?
Elaborei alguns gráficos e tabelas com base na última pesquisa Datafolha (6 a 7 de junho de 2018), que nos auxiliarão em nossas análises sobre a evolução eleitoral dos candidatos, e que nos permitirão obter algumas informações também neste sentido.
Na faixa que ganha entre 5 e 10 salários, Bolsonaro lidera com 29%, seguido de Lula, com 17%.
Ciro Gomes vem terceiro lugar, tanto em cenários com Lula, como em cenários sem o ex-presidente. Com o ex-presidente no páreo, Ciro Gomes mais que dobrou seu eleitorado na classe média que ganha de 5 a 10 salários, passando de 5% para 11%. Sem Lula, o pedetista agora abocanha 17% da mesma classe média, um crescimento de 125% sobre a sondagem de abril.
Estes 17% de Ciro Gomes junto à classe média de 5 a 10 salários é o mesmo percentual obtido por Lula, com uma diferença importante: a rejeição do petista junto a este setor é muito alta. Entre quem ganha de 5 a 10 salários, 50% responderam que não votariam, “de jeito nenhum”, num candidato apoiado por Lula, um número próximo aos 52% de rejeição de Collor, ao passo que a rejeição de Ciro Gomes neste mesmo segmento é de apenas 27%.
Entre quem ganha mais de 10 salários, a rejeição a Lula é de 61%, bem maior que a de Collor, que tem 48%; Ciro tem rejeição de 26% nessa faixa de renda.
Alckmin também perdeu espaço no segmento com renda familiar entre 5 e 10 salários. Tinha 9 pontos em cenário sem Lula, em abril, e caiu para 5%, em junho.
Repare ainda que Ciro Gomes começa a ganhar um pouco de autonomia em relação ao eleitorado de Lula. Mesmo em cenários com a presença do ex-presidente, o pedetista consegue pontuações razoáveis em alguns segmentos: entre quem tem mais de 60 anos, por exemplo, Ciro já tem 8% em cenários com Lula. No cenário sem o ex-presidente, Ciro atinge a primeira colocação junto ao eleitorado mais velho, 13%; Bolsonaro e Marina tem 12% e 10%, respectivamente, entre os eleitores idosos.
Segundo o Datafolha, os cidadãos com mais de 60 anos formam 18% do eleitorado nacional; no Sudeste, correspondem a 21% do eleitorado.