Foi assim, tão logo souberam que a seleção argentina iria jogar um amistosos com a seleção de Israel, um grupo de crianças palestinas decidiu escrever uma carta ao jogador Messi, que é um ídolo mundial, e também muito amado pela gurizada palestina. Uma gurizada que vive diuturnamente acossada pela violência, pela morte, pela dor, tudo provocado pelo estado sionista de Israel. Hoje, são mais de 300 crianças presas nas cadeias israelenses, pelo simples fato de existirem, quererem viver no seu território e lutarem por isso.
Na carta, entregue a representação diplomática da Argentina na Cisjordânia pelo presidente da Associação Palestina de Futebol, Jibril Rajoub, as crianças falam com Messi: “Disseram que você vem jogar com os seus amigos em Al Malha, num estádio construído sobre a nossa aldeia. Você é uma figura lendária do futebol com a qual todos sonhamos em ser iguais. Somos filhos de refugiados palestinos dos campos de refugiados de Qalandia, al Amari, Yalazón e Aida. Nossas famílias são originárias de Al Malha. É lógico que Messi, o herói, venha a jogar em um estádio construído sobre os túmulos dos nossos antepassados? Nós, em nome de nossos amigos, oramos a Deus para que atenda nosso desejo, e que Messi não parta nossos corações.”
Essa comunidade, que existia na parte ocidental de Jerusalém, foi uma das 418 vilas palestinas destruídas por Israel desde a invasão, e ali hoje está o estádio Teddy Kollec, onde seria a partida, que serviria justamente para celebrar os 70 anos de criação do estado de Israel. Os 34 mil ingressos já estavam vendidos e o governo preparava uma grande festa, completamente alheio ao sofrimento e ao terror que vem provocando desde a invasão das terras palestinas.
Na última terça-feira a Argentina confirmou o cancelamento da partida, aparentemente acolhendo o pedido das crianças, numa vitória diplomática importante para o povo palestino, justo nesse momento em que os Estados Unidos acirram a violência com a transferência da sua embaixada para Jerusalém, alegando que ela é a capital de Israel. Os últimos dias tem sido de barbárie com dezenas de pessoas sendo assassinadas por franco-atiradores durante os protestos na fronteira, como o caso da enfermeira de 21 anos, Razan al-Najar, atingida enquanto prestava ajuda a um ferido.
A vitória é também do Movimento BDS (Boicote, Desenvestimento, Sanções) argentino, que potencializou a campanha. Esse movimento existe em todo o mundo conclamando ao boicote a Israel.
O governo israelense já confirmou o cancelamento argumentando que o jogo não será realizado em função de “ameaças de morte” ao jogador Messi. O presidente da Associação de Futebol Argentina, Claudio Tapia, também confirma a versão: “O acorrido nas últimas 72 horas, as ações, as ameaças que aconteceram, nos levaram a tomar a decisão de não viajar. A minha responsabilidade, como presidente, é a de lutar pela saúde e a integridade física de toda a delegação”.
Essa jogada de colocar a culpa do cancelamento nas “ameaças”, que na verdade não existiram, é uma tentativa polida de escorregar pela tangente.
De qualquer forma, a Argentina não indo a Israel é um gol de placa, não de Messi, mas das crianças palestinas que ousaram chutar forte e, mais uma vez, enfrentar o gigante.
Que vivam as crianças palestinas. Que vivam! Elas enchem meu coração de alegria em meio a toda essa dor.
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