Cerca de duas mil pessoas, vindas de Norte a Sul do país, se encontram em Belo Horizonte/MG para resistir ao agronegócio. Elas vêm anunciar que existe outro modelo de desenvolvimento, posto em prática por elas mesmas, e que conjuga sustentabilidade com geração de riquezas e justiça social. De 31 de maio e 3 de junho, a capital mineira sedia o IV Encontro Nacional de Agroecologia (IV ENA), no Parque Municipal Américo Renné Giannetti.
O encontro ocorre no momento em que o Brasil vive a discussão sobre o Pacote do Veneno, um Projeto de Lei que retira todos os controles legais que impedem o uso desenfreado de agrotóxicos nas lavouras e é, pelo 8º ano consecutivo, o maior consumidor de veneno no mundo. Soma-se a isso a crise generalizada que o país atravessa assim, o lema do Encontro trás ao centro das discussões a resistência ao golpe: “Agreocologia e democracia unindo campo e cidade”.
De todos os participantes, metade são mulheres, que despontam como sujeitos políticos com grande capacidade de auto-organização e de resistência ao avanço do agronegócio. Tanto que a primeira plenária do evento trouxe as vozes das mulheres para o centro da discussão. Lucineia Freitas, do Setor de Gênero do MST, destacou a relevância do encontro. “O ENA é um evento importante para articular os vários coletivos que fazem esse debate de agroecologia. A participação do MST é uma contribuição nos rumos políticos da agroecologia como projeto de sociedade, no sentido da agroecologia que acreditamos, com caráter antirracista, feminista e anticapitalista. Aqui defendemos a luta pela democracia popular e por Lula Livre, porque sabemos que as políticas para levar alimentos saudáveis a todos só serão retomadas com a restituição democrática e a revogação das medidas nefastas do governo golpistas de Temer”.
Dentre os delegados estão povos indígenas, comunidades tradicionais, agricultores e agricultoras familiares, integrantes do MST. Todos e todas num processo de troca de experiências agroecológicas, discutindo os efeitos das políticas públicas para a agricultura familiar e pautando as lutas do movimento para a sociedade.
O IV ENA apresenta para a população urbana os múltiplos benefícios da agroecologia como a produção de alimentos saudáveis; a recuperação e conservação das fontes de água, da biodiversidade, das florestas e dos solos; a geração de renda na agricultura e a valorização das identidades e culturas dos povos e comunidades do campo. Esses benefícios respondem a um sem número de desafios vivenciados no Brasil, como a alta concentração de agrotóxicos nos alimentos, desmatamento, mortes de rios, concentração de renda, êxodo rural, aumento da pobreza, entre outros.
Maria Emília Pacheco, da Articulação Nacional de Agroecologia (ANA), afirmou que o movimento agroecológico traz a capacidade de mobilizar a sociedade diante da conjuntura. “Estamos construindo outras alternativas no país. Nosso sistema alimentar depende do poder da agricultura familiar, camponesa, indígena, quilombola para alimentar o Brasil com comida de verdade. Esse momento chama atenção para a questão do abastecimento alimentar. São importantes os curtos circuitos de comercialização e o reforço da agroecologia”, disse, criticando o modelo de distribuição que transporta alimentos por longas distâncias.
Até domingo a população mineira poderá participar de inúmeros debates, oficinas livres, rodas de conversa sobre temas urgentes da sociedade. Atrações culturais permeiam toda a programação e uma feira com centenas de qualidades de alimentos e artesanatos ilustra a capacidade produtiva da agricultura familiar que luta para se libertar dos agrotóxicos. Clique aqui e confira.