Por Cristiane Sampaio.
O aumento expressivo das importações de derivados de petróleo sob o governo golpista de Michel Temer (MDB) tem sido o foco das críticas da oposição ao papel do governo no processo que levou às greves de caminhoneiros por todo o país. Os números indicam que os protestos estão corretos.
A compra de gasolina junto a multinacionais, por exemplo, saltou 53% em 2017. Já a importação de diesel subiu 63,6 % no mesmo período. A participação dos Estados Unidos é central nesse processo: entre 2015 e 2017, as importações de diesel norte-americano dobraram, passando de 41% para 82% do total importado.
Ao mesmo tempo, a Petrobras tem batido recordes de exportação de petróleo cru. No ano passado, foram 400 milhões de barris vendidos para serem refinados fora do país.
A junção desses movimentos –mais importação de derivados refinados e mais exportação de petróleo cru– é responsável por uma ociosidade de pelo menos 25% da capacidade instalada nas refinarias brasileiras.
E a política de preços, lançada em julho de 2017, provocou impactos na cadeia de venda dos diferentes combustíveis. O preço da gasolina nas refinarias, por exemplo, subiu 57%. Já o diesel aumentou 57,8%.
Os dados são de um relatório preparado pela liderança do Partido dos Trabalhadores no Senado a partir de fontes públicas, e que tem subsidiado os parlamentares no embate com os governistas.
Lógica de mercado
“A Petrobras está sendo administrada sob a lógica do mercado. Quem está sendo contemplado com essa política do Pedro Parente [atual presidente da estatal] são os acionistas internacionais, que exigem a subida imediata de preços”, critica o deputado Ivan Valente (Psol-SP).
O vice-presidente da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Divanilton Pereira, destaca o receio do campo popular de que a política atual leve à privatização da Petrobras.
“Está em curso a privatização da empresa, e o refino faz parte disso, então, ele entrega as quatro refinarias, baixa a capacidade de produção interna e coloca preços que as empresas estrangeiras querem praticar no Brasil. É uma condição pra comprarem as refinarias”, relaciona.
O dirigente defende a queda de Pedro Parente e uma mudança de rumo na atuação da empresa. A entidade acompanha com atenção o anúncio feito recentemente pelo governo para colocar à venda 60% de quatro refinarias da estatal.
À lenha
Pereira destaca que a cartilha atual da Petrobras penaliza o conjunto da classe trabalhadora porque o preço cobrado pelas refinarias repercute diretamente no transporte público e nas bombas.
Ele defende que sejam feitas mudanças estruturais capazes de baratear o preço de todos os produtos que chegam ao consumidor.
“Aparentemente, estamos discutindo o diesel, mas o problema permanece, por exemplo, com a gasolina e a extorsão no gás de cozinha. Um milhão e 200 mil famílias agora estão usando fogão à lenha porque o preço está absolutamente extorsivo”, criticou.
O dado citado pelo dirigente foi divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e se refere ao número de domicílios que passaram a usar, em 2017, lenha e carvão como alternativa ao gás para cozinhar.