Por Tereza Cruvinel.
Salvo uma mudança noturna de planos, o presidente Michel Temer anunciará hoje que não será candidato à reeleição. Será no ato em que o MDB lançará sua plataforma “Encontro com Futuro”. E com isso, Temer sai de cena sem a aura de poder que desejava conservar até mais adiante, para evitar o café frio servidos a presidentes em final de mandato, metáfora já batida sobre o ostracismo no declínio. Para não prejudicar o MDB, ele ficará fora dos palanques. Henrique Meirelles será o candidato e fará a defesa do governo.
Seu gesto seria um alento para a candidatura do ex-ministro se a economia não estivesse novamente desandando. Retração no PIB, alta do dólar, freio na queda dos juros e desemprego persistente complicam o plano de Meirelles, de se apresentar aos eleitores como quem colocou ordem na casa.
Com a desistência, Temer se aproxima do ocaso melancólico que o espera, em papel bem distinto do que traçou para si quando começou a conspirar contra sua companheira de chapa em 2014: o de presidente que enfrentou o caos, recuperou a economia e implementou reformas liberais importantes, reunindo condições para disputar um mandato legítimo ou tornar-se um eleitor de peso no processo. Na última pesquisa CNT/MDA, seu governo foi aprovado por apenas 4,3% dos entrevistados, e reprovado por 71%. O próprio Temer teve aprovação de 9,7% contra 82,5% de reprovação. Como candidato, ficou com 0,9%.
Com tais índices, a candidatura soava a delírio mas Temer a manteve em cartaz (embora tenha antecipado a desistência aos mais próximos). No curso do impeachment, garantiu que não disputaria o segundo mandato. Estava implícito, nas negociações, que o candidato da coalizão seria um tucano. Naquele momento, seria Aécio Neves. No ano passado, depois da delação da JBS, começou o zum-zum. Temer queria um defensor do governo na campanha e ninguém o faria melhor que ele. Depois da intervenção federal no Rio, que definiu como “jogada de mestre”, admitiu a candidatura, mas a rejeição não se moveu.
Ele deve encerrar a novela com uma boa desculpa: contribuir para o afunilamento do centro. Em recente entrevista ao canal governamental NBR, afirmou: “Hoje tem muitos candidatos no chamado centro, o que não é útil, porque confunde o eleitor”. Prometia tomar a decisão em junho mas teve que antecipá-la. O MDB vem cobrando uma definição alegando que precisa montar suas alianças. Em verdade, avaliou que, com Temer no palanque, perderia votos. Com Meirelles, pode não ganhar, mas não perde votos nem dinheiro, pois ele bancará sua própria campanha. A conversa com Geraldo Alckmin não prosperou e o mercado mandou avisar que a indefinição de Temer alimentava a incerteza, num quadro em que a centro-direita não tem candidato competitivo.
E assim, depois de celebrar na semana passada o último aniversário de seu governo desfiando um colar de êxitos, Temer desiste da quimera. Para sobreviver, ele dependerá muito do desempenho do MDB. Candidato, ele seria a Geni dos demais, e poluiria o horário eleitoral, usando a maior fração de tempo para se defender, para falar do passado e não do futuro.
Dois pontos
Mal contados os votos que deram a vitória ao presidente Nicolás Maduro, Donald Trump decretou sanções econômicas contra a Venezuela e 13 países da região não reconheceram o pleito. A instabilidade continuará castigando os venezuelanos.
Um dos argumentos usados para deslegitimar o pleito é o de que houve controle do voto de eleitores cadastrados pelo governo em programas sociais, e isso, se confirmado, é mesmo grave. Outro é o de que o índice de comparecimento foi muito baixo. Apenas 54% dos eleitores votaram, contra 80% em 2013. O detalhe é que o voto na Venezuela é facultativo. Este argumento é frágil. A constituição deles não estabelece um quórum eleitoral mínimo para a validação do pleito.