Por Maurício dos Santos, para Desacato.info.
A obra de Freud catequiza as mulheres como marcas da Psicanálise, significantes para exemplos psicanalíticos clássicos, como no caso mais específico de Ana O. Freud ouviu senhoras ricas de medo e coragens, e depois Anna Freud e Melaine Klein debruçaram-se no universo feminino de crianças e adolescentes. Abriram o espaço necessário para elas despejarem segredos, explicitarem seus dramas pessoais, quase todas as vezes ligados à sexualidade.
Essa contribuição lançou à vida humana uma nova perspectiva sobre o sujeito feminino, entrou para a história e somou, mais tarde, à luta feminista mundial, sem pretensões de servir como instrumento, mas sim de oferecer novas retóricas, uma vez que é fruto da Psicanálise servir de essência para discussões sobre diversidade e sexualidade.
Conectada à filosofia e todas as outras ciências humanas, a Psicanálise se relaciona com as demandas acadêmicas e integra discussões históricas, servindo de base para o discurso, inclusive, dos seguidores do feminismo.
Talvez, nunca antes, as mulheres puderam expressar-se tanto, como nos divãs e settings analíticos. Liberaram-se, libertando desejos que não podiam manifestar senão nas artes ou em seus tradicionais diários.
A relação da Psicanálise com as artes é explícita: as duas formam uma rede de fuga, e são constituídas por pontos de interrogação perenes. De acordo com o pai da Psicanálise nenhum ser humano suporta viver sem um “recreio”, um estado livre de qualquer intervenção social obrigatória. São necessárias fugas saudáveis. Porque a vida, muitas vezes, é dura demais para os humanos, e pode ser metaforizada na imagem de uma corrente ou mesmo prisão.
Nas artes plásticas, nos palcos, nas telas, as donzelas ou heroínas são aquilo que querem ser ou poderiam se tornar. A Psicanálise é irmã gêmea, ou mesmo alma gêmea, da arte, ou mesmo uma arte, e ciência de revelar as dores da alma de maneira humana, sensível.
É bruta porquê lida com as vozes do interior, escondidas e recolhidas em sementes interiores, nuvens de sonhos que brotam ressentidos. O inconsciente esta ali, avisando que há muito mais vida a ser sentida, vivida, explorada!
É muito mais intenso o processo do inconsciente, ele se dá de forma singular, mas é afetado diretamente pelo inconsciente coletivo, tal qual Jung explicou em sua teoria. Freud não concordou com essa técnica e aí se deu o divórcio intelectual e humano de ambos.
O próprio Freud, e depois, mais tarde, Kant, na filosofia mais contundente sobre o viver, aborda a ideia de que o raciocínio humano não é apenas formado pelo duelo: razão x emoção. E a emoção pode ser um exemplo racional, também. Esse é um choque de paradigma, pois racha o conceito de que racionalidade e subjetividade são tão antagônicos assim.
Aos poucos, verá que alguns (muitos) comportamentos e reações são universais, e antecipando as reações dos outros, num primeiro momento irá se conter, mas quando estiver realmente bem, vai inserir atitudes no ambiente que modificarão a realidade a seu favor. (Wally Martins)
Sou mulher! Uma mulher em construção. Que ama e é amada, sofre, deseja, sonha, amadurece a cada dia e se transforma. Uma mulher com minhas diferenças mas, ainda assim, uma mulher. Carioca morando em Brasília. Uma eterna apaixonada pelo Rio de Janeiro, Flamengo e Mangueira. Aliás, sou uma apaixonada. Apaixonada pela vida! Vivo no tempo da paixão! Será porque sou de escorpião?! Aprendendo a me “perder” e me encontrar nessa cidade que é meu novo lar. Entre Quatro Paredes é o meu mundo particular” (Camila Goés, psicanalista e autora do blog http://camila-
Os exemplos acima coletados de variadas vozes são mais demonstrações públicas do quanto o universo particular feminino é compartilhado no mundo das letras virtuais e dos discursos reais. O mundo das mulheres, como diz a feminista assumida e filósofa Marcia Tiburi, esta cada vez mais presente no comportamento dos homens. O ser feminino está inteiramente ligado, “on line”.
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Maurício dos Santos é jornalista, produtor cultural e Psicanalista. Autor do livro “Acima da Cabeça só existe o Coração”. Nasceu em Santa Catarina.