A piada, que não mereceu nenhum comentário dos demais ministros, foi notada por pouca gente que estava ligado no Canal da Justiça – que transmitia ao vivo, assim como a própria Globonews. O placar, àquela altura, estava 10 a 0 pela restrição do foro.
As relações entre o ministro e a TV começou a azedar quando alguns posicionamentos defendidos pelos comentaristas passaram a ser contrariados pelo ministro. Hoje Gilmar chega a chamar a mídia, que o serviu por tanto tempo, de “opressiva”.
Em abril deste ano, quando votava sobre o direito de aguardar ou não a prisão até a última instância, pretendido pelo ex-presidente Lula, Gilmar desabafou:
– Nesses meus 15 anos de Supremo Tribunal Federal eu já vi quase de tudo. Mas nunca vi uma mídia tão opressiva como essa que está sendo feita neste caso. Se tivermos que decidir causas como essa porque a mídia quer esse ou aquele resultado, melhor irmos para a casa – disse.
Dias antes O Globo publicou um vídeo em que o ministro era hostilizado por brasileiros durante passeio em Portugal.
O telefonema de Bonner para Gilmar foi flagrado
A história viralizou em 2016 – pouco antes do golpe final contra a democracia brasileira. O professor da USP, Clóvis de Barros Filho, a fez constar em um livro e depois teria sido obrigado a removê-la. E foi assim que ele narrou:
“Vou dar um exemplo que me chocou. Fui a uma reunião de pauta do Jornal Nacional, e o William Bonner liga para o Gilmar Mendes, no celular, e pergunta. ‘Vai decidir alguma coisa de importante hoje? Mando ou não mando o repórter?’. ‘Depende. Se você mandar o repórter, eu decido alguma coisa importante.'”
O nome da obra literária é “Devaneios sobre a atualidade do Capital”.
Barros fez parte de um grupo de acadêmicos convidados a presenciar, uns anos atrás, uma reunião de pauta do JN. A parte do livro em que ele descreve o diálogo jornalística e juridicamente criminoso narra o que, segundo ele, são as relações espúrias entre braços diversos da plutocracia nacional para a manutenção de mamatas e privilégios de uns poucos.
Candidamente, Barros Filho se declarou, à época, “chocado”.