Por Gilberto Maringoni.
O ataque bestial dos EUA, França e Grã-Bretanha à Síria tem outra consequência séria, além do impiedoso massacre de civis.
É a de desmontar a lenda urbana de que – na atual situação global de inviabilização da democracia pelo absoluto predomínio do capital financeiro – haveria a emergência de um novo centro político.
Essa posição seria defendida por Emmanuel Macron, modelo de jovem, bom moço e equidistante entre direita e esquerda. Seria um píncaro de sensatez em meio a um mundo de pernas para o ar.
Conceitualmente, não existe centro político em uma sociedade de classes. Um hipotético centro concordaria com o status quo – ou seja, jamais seria mudancista -, mas o apimentaria com políticas que moderassem a voracidade do capitalismo como ele é. Pena que o mundo real não funcione assim.
+ O poder mundial em jogo
Nem mesmo a socialdemocracia européia dos anos dourados (1945-75) pode ser classificada como centro. Ao buscar embutir um custo social permanente no funcionamento do sistema, ela se colocou abertamente contra o mercado. Ou seja, tentou ser um dique de contenção à chegada do neoliberalismo.
Não à toa, foi por ele atropelado nos anos 1990.
Macron era o centro dos sonhos do establishment. Uma conjuntura especial o colocou como opositor tanto de Jean-Luc Mélenchon quanto de Marine Le Pen. Apesar disso, mostrou-se disposto a fazer o que deve ser feito: a reforma trabalhista a ferro e fogo. Com tais atributos, o presidente francês tornou-se desde logo um modelo a ser perseguido em todo mundo. Seria a alternativa viável ao neandertalismo de Trump ou à exuberante mediocridade de Tereza May. Aqui no Brasil, os inigualáveis João Dória, Henrique Meirelles, entre outros, tentaram vestir seu figurino. Em vão.
O ataque à Síria recolocou as coisas no lugar. A adesão entusiástica do titular do palácio do Eliseu ao big stick da Casa Branca o enturma com uma galera medonha.
Macron revela-se um Trump mais novo e sem aquele cabelo cor de Fanta laranja. É o próprio universo em desencanto.