Diversos movimentos, grupos das artes e universitários de São Paulo se mobilizam contra expulsão da sul-africana que já é referência artística em São Paulo
No dia 8 de março – dia internacional da mulher – uma rede de apoio composta por diversos setores da sociedade civil, como artistas, intelectuais e movimentos sociais lançam a campanha #NduduzoTemVoZ.
A campanha busca defender a permanência da artista sul-africana Nduduzo no Brasil, além de dar visibilidade ao trabalho artístico que vem sendo desenvolvido por ela. A professora da Universidade de São Paulo Carmina Pinheiro, coordenadora do projeto Mulheres Livres promovido pelo CORAL-USP, é uma das que atestam que a artista tem “talento musical extraordinário, além de carisma social e articulação intelectual”.
Nduduzo como uma pessoa migrante que cumpriu pena por ter sido acusada de tráfico transnacional de drogas no Brasil responde atualmente a um procedimento administrativo de expulsão que é tramitado no Ministério da Justiça. Como mulher, migrante, negra, egressa do sistema prisional brasileiro, e agora como artista, cantora e atriz, Nduduzo tem o sonho de continuar no Brasil para despertar a voz de outras mulheres que “não podem nem sonhar com a liberdade”.
A sua permanência significa esperança para milhares de mulheres que sonham com algum tipo de ressocialização no terceiro país onde mais se encarcera pessoas no mundo, e onde a população carcerária feminina, composta em grande parte por mulheres negras, cresceu 698% em 16 anos, a maioria detida por tráfico de pequenas quantias de drogas como única forma de sobrevivência da família no país que supera ranking de desigualdade.
Destaques da trajetória artística e acadêmica de Nduduzo em São Paulo
Desde 2017, Nduduzo atua e canta no espetáculo musical Inútil Canto e Inútil Pranto Pelos Anjos Caídos, escrito pelo dramaturgo Plínio Marcos em 1977. A peça ficou em temporada na Escola de Arte Dramática da Universidade de São Paulo e no Itaú Cultural, agora segue no circuito municipal em aparelhos públicos de São Paulo.
Também participou de mais de 12 eventos públicos, com destaque para o projeto “Voz Própria” do grupo Mulheres Livres, que dará origem a um filme curta metragem patrocinado pela Secretaria do Estado de Cultura.
Quando Nduduzo ainda estava em regime fechado, na PFC (Penitenciária Feminina da Capital), conheceu a musicista, psicanalista e educadora Carmina Juarez, orientadora de voz do Coral da USP, que, em parceria com a Secretaria da Administração Penitenciária, é responsável pelo projeto “Voz Própria”, uma iniciativa que consiste em trabalhar a música como parte do processo de reinserção de mulheres presas à sociedade.
“Nduduzo é delicada, gentil e amorosa. Ela tem uma inteligência social bem acima da média, tanto que é ela começar a cantar que integra todo mundo. Por ela ter todos esses talentos, ela impacta as pessoas. Ela tem uma potência que dá a ela essa visibilidade: de ser uma mulher que se transformou. Isso é muito interessante, as mulheres que saem do projeto podem ver nela uma voz representativa, uma possibilidade”, atesta Carmina.
É também convidada do Núcleo Permanente de Pesquisa Musical da Cia Tijolo, projeto coordenado pelo maestro William Guedes apoiado pela Lei de Fomento ao Teatro da Prefeitura de São Paulo. A artista tem contribuído também com o grupo de pesquisa em performances e novas mídias do Colabor-USP, ligado à Escola de Comunicações e Arte (ECA-USP).
Aguarda decisão: Nduduzo recorre contra expulsão no Ministério da Justiça
Em 9 de março, Nduduzo apresentou recurso administrativo por meio da Defensoria Pública da União, órgão de assistência judiciária na área de migrações, solicitando que o Ministério da Justiça reconsidere e revogue seu decreto de expulsão com base em sua ressocialização, hipótese prevista na nova lei de migração e no sistema internacional de direitos humanos.
Confira matéria da Ponte Jornalismo: https://ponte.org/artista-sul-africana-luta-para-nao-ser-expulsa-do-brasil/
Queremos Nduduzo no Brasil. Queremos Nduduzo Livre!