A execução da vereadora carioca Marielle Franco coloca o golpe parlamentar em um novo patamar. Um novo velho, diga-se. Em meio à intervenção militar federal no Rio de Janeiro, os fantasmas dos esquadrões da morte se anunciam enquanto o general Souza Braga manifesta seus receios em relação a uma nova “Comissão da Verdade”. Uma comissão que nunca puniu ninguém, salvo nas rusgas morais que provocou na memória que fixa galardões em fardas. Como disse o filósofo Vladimir Safatle em palestra proferida na Universidade Federal de Santa Catarina na última quarta-feira (14/03), o Brasil nunca prestou contas com sua história e a ruptura com a ditadura militar não aconteceu, de modo que vivemos um longo período de “transição democrática”, monopolizado pelo populismo e que manteve na Constituição de 1988 os dispositivos legais que conferem ao Exército o papel garantidor de lei e da ordem. E cá estamos nós, nação baratinada, sem projeto e com os sonhos destruídos, no dia em que os Juízes Federais convocam greve para defender o privilégio de um auxílio moradia próprio das cortes absolutistas.
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A execução de Marielle e o receio manifestado pelo general Braga de que se instaure nova comissão da verdade mostram o rompimento da possibilidade do diálogo. O populismo enquanto mecanismo de gerenciamento dos conflitos e das frustrações está esgotado neste momento histórico do Brasil. O campo de batalha pertencerá àqueles que souberem ocupá-lo.