Junto aos professores em greve e as paralisações pelo mundo construímos um feminismo revolucionário

Por Patrícia Galvão.

Foi há 101 anos atrás que milhares de operárias russas se levantaram contra às péssimas condições de trabalho, os salários baixíssimos pagos às mulheres, a fome, o governo autoritário e a guerra imperialista. As mulheres russas foram a faísca que deu início a maior revolução da história, a Revolução Russa.

No Brasil, esse 8 de março acontece num momento de crise profunda econômica e das instituições e do regime burguês. As arbitrariedades do judiciário, onde 3 juízes que não foram eleitos por ninguém, avançam sobre o direito do povo decidir em quem votar. O golpista Temer, com índice de reprovação recorde, decreta uma intervenção federal sem precedentes no Rio de Janeiro, colocando o exercito para intervir no Estado após não ter conseguido aprovar a reforma da previdência. O mesmo golpista que junto ao congresso de corruptos aprovou a reforma trabalhista, a terceirização e ataques profundos aos direitos dos trabalhadores.

Esses ataques aos trabalhadores, atingem em cheio as mulheres. O ataque às mulheres grávidas e lactantes, obrigando que trabalhem em locais insalubres, a flexibilização da jornada, que para quem já sobre com a dupla jornada, significa trabalhar até o limite das próprias forças, o trabalho intermitente e o aprofundamento da terceirização são exemplos de como a reforma vai prejudicar as mulheres trabalhadores, sobretudo as mulheres negras. A terceirização, que torna as condições de trabalho mais precárias, rebaixa os salários e aumenta a vulnerabilidade do empregado frente ao patrão, afeta majoritariamente mulheres negras, principalmente nos serviços de asseio e limpeza. Hoje as mulheres ganham cerca de 30% menos que os homens. O salário das mulheres negras pode chegar à 60% menos que um homem branco. Não há dúvidas que os taques dos governos vão precarizar ainda mais a vida das mulheres.

A intervenção federal no Rio de Janeiro quer calar o grito de revolta do povo que também ecoou no carnaval, com a pergunta que não cala “Meu Deus, meu Deus, está extinta a escravidão?”. Hoje no Brasil, as mulheres negras têm o dobro de chances de serem assassinadas, vítimas da violência do estado e machista. A intervenção federal vai aprofundar isso, aumentando a violência contra os negros, os mais pobres e os trabalhadores.

Em 2017 os trabalhadores fizeram uma das maiores Greves Gerais da história do país contra a reforma da previdência, no dia 28 de abril, contudo pela responsabilidade das centrais sindicais patronais e petistas, como CUT e CTB, que traíram a luta e impediram que a revolta dos trabalhadores se transformasse em em uma grande batalha de classe contra os ataques. As centrais permitiram assim que esses ataques passassem sem luta, para depositar toda a política nas eleições atuais, onde vemos o petismo, mesmo com Lula correndo risco de prisão, seguindo sua paralisia para preservar as instituições e essa democracia degradada.

Nos anos de governo do PT, Lula e Dilma barganharam os direitos das mulheres para manterem sua governabilidade enquanto abriam espaço para os setores de direita no governo, os mais reacionários como Eduardo Cunha, Bolsonaro, Rodrigo Maia e outros. Após o golpe de 2016 vemos essa direita ganhar força, não só aplicando os ataques aos trabalhadores, mas também a população oprimida, como a medida que permite que os LGBTs sejam considerados doentes, ou a PEC 181 que impede que as mulheres abortem mesmo em caso de estupro ou risco de vida. E ainda após o golpe Lula falou em perdoar os golpistas. Nesse 8M vamos construir blocos de mulheres que lutam de forma independente de qualquer partido do regime.

No capitalismo, a opressão às mulheres é um “negócio extremamente lucrativo”. Divide a classe trabalhadora, rebaixando salários e aumentando a exploração. Isso a serviço de aumentar o lucro dos patrões e manter os privilégios dos políticos e dos juízes. A violência a mulher, a proibição do aborto e do direito ao próprio corpo, são parte fundamental nas engrenagens do sistema. A objetificação da mulher faz com que a indústria cosmética de “beleza”, de dietas e a indústria farmacêutica lucrem às custas da opressão e por conta da expansão das ideias feminista, agora buscam adaptar seus discursos de inclusão feminina para tentar cooptar o sentimento das mulheres.. Lucram duplamente, com o lucro sobre a exploração do nosso trabalho e com os lucros advindos da venda de padrões estéticos e comportamentais.

Nós, mulheres do Pão e Rosas reivindicamos um feminismo internacionalista, revolucionário e classista que lute contra o machismo e contra o sistema capitalismo. Estamos juntas as professoras em greve em São Paulo, Minas Gerais e Piauí, e aos servidores em greve do Rio Grande do Norte construindo ações, atos e paralisação junto aos trabalhadores e a juventude.

Nesse dia 8M o Pão e Rosas esta protagonizando várias ações pelo mundo, no Chile, México, EUA, Bolívia, França, Alemanha, Estado Espanhol, Catalunha. Na Argentina, seguindo o exemplo das Leoas da Pepsico que em 2017 transformaram sua luta contra as demissões em um escândalo nacional, estamos nas ruas pelo direito ao aborto e contra a reforma da previdência de Macri. A deputadas do Pão e Rosas e do PTS, organização irmã do MRT na Argentina, junto aos companheiros deputados do PTS, estão travando uma batalha pela legalização do aborto junto aos atos de milhares que ocorrem pelo país. Do Estado Espanhol vem o grito do hino da Revolução Espanhola, entoado por milhares de mulheres que protagonizam, junto aos homens, uma histórica paralisação pelo direito das mulheres.

Defendemos um feminismo insubordinado, anticapitalista, contra as tentativas de cooptação por um feminismo neoliberal propagado por empresas, independente dos partidos do regime e da patronal. Por um feminismo que ao lado da classe trabalhadora se coloca a tarefa de lutar contra o machismo e o capitalismo. Pelo pão e pelas rosas!

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