Quando Eli Sommer encontrou o termo transgênero em um post de Tumblr no Ensino Médio, tudo fez sentido. “Ah”, ele pensou. “Esse sou eu.” Frequentando um colégio do estado da Geórgia, nos Estados Unidos, e lutando contra a ansiedade e depressão, Eli tentava se comunicar com seus pais que o forçavam a aceitar que ele era uma menina.
Adaptação do texto de Jey Ehrenhalt, publicado originalmente no site Teaching Tolerance, da rede de parceiros do Centro de Referências em Educação Integral.
Foi só depois de seu psicólogo, ele próprio um transgênero, recomendar a leitura do livro The Transgender Child que seus pais perceberam que Eli precisava prosperar.
A família então se encontrou com o professor de Eli que, rapidamente, se tornou um aliado, passando a aconselhar, inclusive, o clube LGBT formado por Eli, o GLOW (Gay, Lesbian or Whatever). “Ele é cisgênero e hetero”, lembra Eli, “mas é apaixonado por defender e certificar-se de que todas as crianças do nosso clube tenham sucesso na escola e não sejam excluídos por causa de como elas se identificam”.
Eli também encontrou um defensor no diretor da escola, que estabeleceu um banheiro neutro para que ele pudesse usar. “Eu não imaginava que meu diretor reagiria assim”, conta Eli. “Mas quando todo o assunto transgênero veio à mesa, ele foi como ‘eu realmente não entendo nada disso, mas Eli é uma boa pessoa e nós vamos conseguir o que ele tem direito’”, conta.
Embora não sem obstáculos, a relativa facilidade de transição de Eli é rara. Levantamentos mostram que, em comparação com os seus colegas LGB, os estudantes transgêneros e sem conformidade de gênero enfrentam maior hostilidade na escola. De acordo com a instituição americana Centro Nacional para a Igualdade dos Transgêneros, em 2015, 75% dos jovens transgêneros sentiam-se inseguros na escola e eram menos propensos a planejar sua educação futura.
A boa notícia é que os educadores estão aprendendo mais sobre como apoiar estes jovens na escola. Uma das lições mais importantes? As necessidades dos jovens transgêneros são distintas das de seus colegas LGB – e se estendem além do uso do pronome adequado e do acesso ao banheiro.
Orientação e apoio: a escola mais humana
Especialistas colocam a orientação como um instrumento essencial para o sucesso dos estudantes trans, mas os mentores formais são escassos. Jenn Burleton, diretor executivo do TransActive Gender Center, em Portland, Oregon, procurou estabelecer um programa de tutoria trans-trans, mas não conseguiu localizar adultos transgêneros suficientes para jovens identificados de forma semelhante.
“Hoje, o que essas crianças não têm são suficientes exemplos de adultos trans fazendo o que todos fazem e dizendo para elas como era quando eram mais jovens. Estando lá para elas verem e saberem que há um lugar para elas quando envelhecerem “, diz Burleton. “Isso dá uma sensação subliminar de que o esconderijo é o único meio de ser”.
“O que essas crianças não têm são suficientes exemplos de adultos trans fazendo o que todos fazem e dizendo para elas como era quando eram mais jovens”.
Kiera Hansen, assistente social de Portland, Oregon, está tentando preencher esse vazio. Hansen ajuda a tocar um programa com jovens que evadiram a escola, onde quase todos se identificam como trans ou sem gênero. Fora do grupo, Hansen acompanha alunos quando precisam de apoio, reunindo-se com professores para garantir o acesso aos banheiros adequados, o uso dos pronomes certos e abordar quaisquer outras questões que os alunos possam enfrentar.
“Somos transparentes sobre os obstáculos que atravessarão na vida e no programa. Nós não fazemos tudo parecer perfeito. Queremos que eles tenham as ferramentas para interagir com os sistemas que, muitas vezes, estão trabalhando contra eles e suas vozes “.
Um dos membros do grupo, Cameron, está prestes a se formar no Ensino Médio e atribui parte desse sucesso ao programa. “Eu tive experiências muito ruins na escola”, conta, relembrando os frequentes casos de bullying, inclusive, a comparação com um animal selvagem na classe de Sociologia. “Ter esse grupo me aguardando todas as semanas foi uma das motivações que me fez seguir com a escola”.
Confiança, a chave de tudo
Ao trabalhar para o sucesso dos estudantes transgêneros, é fundamental que os jovens identifiquem um adulto com quem possam contar. Johanna Eager, diretora do programa Human Rights Campaign’s Welcoming Schools, forma educadores em torno da temática da identidade de gênero. Ela treina as escolas para ajudar os alunos em transição a identificar um membro experiente da equipe – trans ou não – com quem se sintam seguros. “Todo estudante trans precisa saber quem é a pessoa segura”, diz. “Você é vulnerável se você é o único”.
Acima de tudo, os mentores de qualidade acreditam que os jovens transgêneros sabem quem são e o que precisam.
Eager diz que não existe uma fórmula para o que seria a orientação ideal. Alguns mentores são dedicados e informados com base em suas experiências. Outros são naturalmente gentis e carinhosos, sem treinamento formal. Acima de tudo, os mentores de qualidade acreditam que os jovens transgêneros sabem quem são e o que precisam. Como um pai refletiu sobre a criação de seu filho transgênero, “nunca houve decisões conscientes. Foi sempre intuitivo, seguindo-o. Trata-se de deixá-lo liderar e apoiar onde quer que esteja”.
Os jovens transgêneros desejam, em primeiro lugar, que os adultos respeitem seus nomes e pronomes escolhidos. Fazer esse esforço valida a identidade central destes jovens e solidifica sua segurança. Sem isso, um relacionamento confiável não pode ser construído. Como Cameron diz: “Quando as pessoas fazem isso, sem dúvidas, você pode dizer que eles o veem da maneira que você quer ser visto “.
Dicas para os educadores lidarem com as famílias dos alunos transgêneros:
Conheça onde as famílias estão:
Evite apontar dedos ou dizer “você tem que fazer isso” ou “esta é a maneira certa”. Parta do pressuposto que cada família se preocupa profundamente com seu filho. Ajude-as a entender como suas ações afetam não apenas seus filhos, mas todos na família.
Use uma abordagem baseada em evidências
Os pais podem querer saber “o que está acontecendo?” ou dizer “você está tentando doutrinar meu filho?”. Baseie-se em pesquisas sempre que possível. A maioria das famílias não possui informações precisas sobre desenvolvimento infantil e adolescente relacionado à identidade de gênero, mas querem entender como ajudar seus filhos.
Dê-lhes espaço
Esta é uma estratégia de “desarmamento”. Se você estiver em uma conversa com diversas pessoas e alguém não o deixa falar, você pode dizer “olha, ficaria feliz em conversar com você depois que isso acabar, mas este é um fórum público e todos estão aqui para aprender. Entendo que você tem preocupações legítimas sobre isso. Por que não escuta o que tenho a dizer e, então, podemos conversar em um segundo momento? ”
Examine atitudes e preconceitos
Muitos educadores que trabalham com jovens LGBT têm vícios em relação à rejeição dos pais. Procure entender os motivos e as aspirações geradas pelas famílias, especialmente, quando a religião é uma variável. Desconstrua seus próprios preconceitos, reconheça que você está os trazendo para a interação e peça aos outros adultos na conversa que façam o mesmo. Isso cria a ótima oportunidade para educadores, gestores e famílias se ouvirem.
Deixe-os contar suas histórias
Poucos pais têm a chance de contar sua história a um terceiro neutro. Isso é algo que todas as famílias precisam. Famílias de jovens LGBT raramente conseguem fazê-lo.
Ajude as famílias a se apoiarem em pares
Muitas famílias querem estar em torno de outras famílias que compartilham seus valores culturais, crenças religiosas, linguagem e experiências. Embora nem todas as famílias se sintam seguras falando em um grupo aberto, ter esse apoio pode fazer a diferença na aceitação de um jovem LGBT.
Concentre-se em todo o sistema
Os sistemas familiares são um recurso incrivelmente poderoso para seus filhos em termos de prevenção e bem-estar. Se você se concentrar em apenas uma pessoa ou “parte do sistema”, você só obtém uma parte da história.
Lembre-se que cada família é diferente
Algumas famílias podem reagir mais rápido do que outras. Algumas podem mudar seu comportamento durante a noite; outras, de todos os tipos de origens, podem começar com rejeição e ambivalência e se tornarem mais solidárias ao longo do tempo.