Por Tarique Layon.
A leitura (ou mesmo releitura) de “O Pequeno Príncipe”, um clássico de Antoine de Saint-Exupéry, nos remete a muitos conceitos que estão deveras esquecidos atualmente, tais como amor ágape e zelo com os semelhantes. Neste artigo dedicar-me-ei a dissertar sobre essa temática tentando obedecer à forma sutil que são abordados nessa obra esplêndida.
No começo do livro ocorre uma descrição do lar do principezinho, chamado de asteroide B-612, e do que é munida a sua riqueza: 3 (três) vulcões que lhe batem pelos joelhos, um dos quais extinto; alguns baobás os quais ele se preocupa em remover, antes que cresçam) e a rosa (essencial em sua trajetória pois lhe era preocupação corriqueira em seu cotidiano).
Todavia, o príncipe resolve explorar o universo e contempla uma série de pessoas e preocupações diferentes das suas, justo o foco dessa explanação. Esse choque cultural o leva a refletir sobre seus princípios e o que move a rotina daquelas pessoas.
A priori ele depara-se com um “Rei” que tinha um local para governar, mas sem súditos… Pessoas essas que poderiam ser aqueles que foram cativados e poderiam seguir tal rei e seus propósitos, mas graças ao egoísmo e excesso de controle do tal não se animavam a se manter sob essa custódia.
Encontrou-se ainda com o “Vaidoso”… Persona essa que possuía o narcisismo como maior característica, característica essa tão presente no mundo de hoje graças ao exacerbado uso de redes sociais e a incessante busca por atenção tem tornado as pessoas cada vez mais imediatistas e ansiosas.
Num outro momento encontrou-se com o “Homem de Negócios”, sendo que este vivia demasiadamente ocupado todo o tempo com seus intermináveis cálculos sobre “suas” estrelas e não gozava de tempo para aproveitar a vida e contemplar os singelos momentos dos quais o menino de cabelos loiros gostava de usufruir.
Encontra ainda com o bêbado que segue um processo cíclico onde bebe para esquecer dos problemas e beber é um problema também. Essa imersão do bêbado o mantém inerte e sem tentar contornar esse círculo vicioso e tomar outros rumos para sua vida.
Quando veio nos visitar na Terra, se deparou com várias rosas idênticas à que ele possuía e profundo pesar e tristeza recaíram sobre ele. Encontrar tamanha abundância de algo que ele considerava ser único detentor o fez desabar em lágrimas. Frente a algo que tinha como de sua exclusiva posse e que poderia ser digno de muito prestígio já não era mais tão destacado quanto se pensava.
Em quantas situações você já se deparou com algo que julgava ser somente seu? Quantas vezes já se colocou em descrédito ou tentação graças ao fato de encontrar cópia ou algo que julga ser mais interessante do que possui e cai na eterna insatisfação humana de sempre buscar satisfação no que não se tem posse contra ao que já se possui?
Após reflexão, o principezinho nota quão una é a rosa que ele tem graças a todo histórico vivenciado com a mesma, todos momentos em que ele cuidou e viveu com ela… Feitos esses que a diferenciam de todas as outras que ele encontrou aqui na Terra… Feitos esses que a tornam exclusiva para ele.
Durante a passagem dele pelo Planeta Azul, encontra ainda uma raposa, que não tinha afinidade com nenhum outro ser e receava-se dos humanos. Agia de tal modo pois caçava as galinhas e, devido a este, os humanos a caçavam. Necessitava de alguém que a cativasse de fato para que ela partilhasse em troca toda sua lealdade e amizade fidedigna.
Após instruir os passos a serem dados para o nosso protagonista e ele seguir de forma direta todas as instruções fornecidas, um vínculo foi criado entre eles que é exibido pelo contexto “tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas”.
Eis que nosso Príncipe encontra-se com um aviador que teve pouso forçado no meio do deserto (e que havia tido experiências fracassadas de desenhista em sua infância). Ele agia da forma como “os adultos agem” e interpela nosso pequeno com as respostas cruas e frias que a sociedade nos molda a copiar e repassar. O Princepezinho solicita a ele um carneiro que come baobás, porém após inúmeras tentativas de desenhar o animal, o desenho de uma caixa (com o carneiro “dentro”) sacia os quereres do nosso protagonista.
Tal modus operandi se torna habitual e cotidiano quanto mais se vivencia atualmente e com a automaticidade que nos é exigida frente a incessante cobrança por produção e resposta rápida. Estímulos diversos e quantidade grandiosa de informação nos são fornecidas atualmente,; todavia, tamanha estimulação “nos deixa sem tempo” para um dos hobbys preferidos de nosso menino loiro: vislumbrar um pôr-do-sol, por exemplo.
Durante sua (aparente?) morte após ser picado por uma serpente, o Príncipe retoma o ponto da água que ele e o aviador partilharam no poço e que tal momento lhe tinha sido único, pois estreitou os laços de amizade que possuíam, assim como o fizera com a raposa outrora.
Momentos simplórios assim colocam em xeque todo pensamento automático que nos acostumamos a ter pois justo esses momentos que ficaram na memória tanto do príncipe, quanto do aviador e da raposa. (Memórias marcantes essas que são demonstradas de forma cômica inclusive no filme “Click” de Adam Sandler onde ele ganha um controle que lhe possibilita controle sobre o tempo).
Teria o aviador, após a breve convivência de uma semana com o Pequeno Príncipe, mudado a ótica que possuía do mundo e notado que sua visão “adulta” de tudo que tinha se nublado para o que de fato se mostrava belo e empolgante para uma vivência plena e nos parâmetros ditos “infantis”?
Será que necessariamente “só se enxerga bem com os olhos do coração” como foi afirmado nessa obra?
Durante as visitas do protagonista, por diversos cotidianos e planetas, ele interage com diferenciados propósitos e cotidianos onde se depara com vistas rígidas e pouco empáticas com seu modo de enxergar o mundo. Porém, uma vez que jamais desiste daquilo que pergunta, mantém-se fiel aos seus propósitos e maneira de enxergar o simples na vida.
Como última reflexão, proponho: e quanto a ti, tens observado a vida por qual ótica?