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Por Míriam Santini de Abreu, para Desacato.info
Mais de três décadas se passaram desde 14 de setembro de 1984, quando cerca de 40 pessoas acamparam na frente do Palácio do Governo de Santa Catarina, que na época ficava na Praça Tancredo Neves, do lado oposto ao da Assembleia Legislativa. Elas exigiam o direito à moradia, na que é considerada a primeira ocupação organizada em Florianópolis e que deu início ao movimento dos sem-teto.
A Carta Aberta distribuída à população por aquelas mulheres e homens falava dos motivos para o protesto: desemprego, fome, frio, insegurança, falta de um pedação de chão para morar: “Por não termos onde ficar, dormimos embaixo de pontes, em escadarias, na frente da Catedral. Mas não nos é permitido dormir ao relento, Isso nos diz a polícia que manda “circular”.
A ocupação teve ampla cobertura jornalística. O extinto jornal O Estado acompanhou o caso diariamente, dos dias 14 a 18 daquele mês, quando houve o atendimento parcial das reivindicações e o fim do protesto. A Carta que circulou na cidade era assinada pelos “Sofredores da Rua”.
A partir do início dos anos 1990, aquela primeira organização deu frutos. Florianópolis viu a ascensão do movimento organizado por moradia, o atendimento das demandas por políticas públicas e, com o passar do tempo, o contínuo inchaço da lista de espera por moradia popular. Lista que quase não anda.
A cidade é cara. As melhores localizações, aquelas atendidas pelos serviços públicos, são para os que têm dinheiro. Cinco meses atrás, levantamentos mostravam que, na Avenida Beira-mar Norte, o metro quadrado estava em R$ 10.499,00, o mais caro da capital. E quanto mais caro fica, mais sofredores há nas ruas. A Ocupação Amarildo, que ocorreu entre 2013 e 2014 no Norte da Ilha, expôs a violência reservada aos que ousam desnudar este modelo de cidade-mercadoria. Mas também mostrou, como naquele setembro de 1984, que os sofredores um dia se levantam, e ninguém mais os mandará circular.
* Um pouco da história do movimento de 1984 pode ser conhecida na entrevista de Ivone Maria Perassa para o projeto de extensão “Escritos em Movimento”, em Vídeo 1 – Escritos em Movimento com Ivone Maria Perassa