Volks, BMW e Daimler por trás de testes de emissões em humanos

Grupo de pesquisa fundado por montadoras alemãs conduziu experimentos sobre efeitos do dióxido de nitrogênio em cobaias humanas.

Um instituto de pesquisa fundado por empresas automobilísticas do país financiou experimentos científicos para testar os efeitos da inalação de dióxido de nitrogênio – gás presente em emissões de carros a diesel – em humanos, segundo reportagens divulgadas na imprensa alemã neste domingo 28.

De acordo com os jornais Süddeutsche Zeitung e Stuttgarter Zeitung, o Grupo Europeu de Pesquisas sobre Meio Ambiente e Saúde no Setor de Transportes (EUGT) – organização fundada por Volkswagen, Daimler e BMW e que foi extinta em meados de 2017 – encomendou a pesquisa.

Os jornais, afirmam que o estudo intitulado “Inalação de curto prazo de dióxido de nitrogênio por pessoas saudáveis” ocorreu durante um período não determinado entre 2012 e 2015, quando o hospital da Universidade de Aachen examinou 25 pessoas que inalaram quantidades variadas da substância durante várias horas. Segundo o conteúdo da pesquisa, ao qual os jornais tiveram acesso, nenhuma reação foi percebida nos indivíduos.

O objetivo e as conclusões do estudo não foram esclarecidos. A revelação dos experimentos com seres humanos surge em meio à discussão sobre a proibição da circulação de veículos a diesel nos centros urbanos. O debate foi motivado por um escândalo em 2015, quando foi descoberto que a Volkswagen manipulou os dados de emissões de seus automóveis em diversos países para que fossem aprovados em testes de agências reguladoras.

O escândalo manchou a imagem da Volkswagen, com a revelação de que a empresa teria burlado testes de emissão em 11 milhões de veículos mundo afora. A empresa se tornou alvo de investigações na Alemanha e de um processo nos Estados Unidos que lhe rendeu multas no total de 4,3 bilhões de dólares.

Os níveis de dióxido de nitrogênio foram manipulados pela Volkswagen nos EUA durante anos. Segundo a Agência Federal do Meio Ambiente da Alemanha, o composto químico irrita as mucosas nos órgãos respiratórios e seus possíveis efeitos para a saúde humana são tosse, dificuldade para respirar e olhos irritados.

Neste domingo, a Daimler condenou publicamente a realização dos testes de emissões em humanos. “Estamos chocados com a extensão desses estudos e de sua implementação. Condenamos fortemente os experimentos. Mesmo que a Daimler não tenha tido influência na elaboração do estudo, lançamos uma ampla investigação sobre o assunto”, afirmou a empresa em comunicado.

Na sexta-feira, o jornal americano The New York Times revelou que o EUGT realizou pesquisas em 2014 nas quais dez macacos aspiravam a fumaça de um Volkswagen Beetle. Os primatas foram colocados numa sala vedada assistindo a desenhos animados enquanto inalavam os gases emitidos pelo veículo.

O objetivo seria fornecer argumentos favoráveis ao uso do diesel, após a Organização Mundial de Saúde (OMS) afirmar que os gases emitidos por esse tipo de combustível são cancerígenos. As montadoras Volkswagen, Daimler e BMW condenaram publicamente a realização dos experimentos envolvendo macacos.

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