Por Lilian Campelo.
Em 2018, a tendência é de aumento de conflitos socioambientais com resistência ampliada pelos movimentos populares
Comparado a outros anos, 2017 não foi um período atípico no que se refere a conjuntura dos conflitos socioambientais que permeiam a Amazônia. Mas, sob a batuta do governo golpista de Michel Temer e de aliados ao modelo desenvolvimentista, o agronegócio avançou de forma ainda mais autoritária na disputa pelos territórios quilombolas, indígenas, camponeses e ribeirinhos. É o que afirmam representantes de movimentos populares e organizações não governamentais.
Para Charles Trocate, membro da coordenação do Movimento Nacional pela Soberania Popular Frente a Mineração (MAM), 2017 entra na linha do tempo como mais um ano de aumento da violência no campo contra agricultores sem-terra.
“2017 está longe de ser um ano diferente para os camponeses, sejam eles organizados ou não, sejam eles mais radicalizados na luta ou não, o padrão de violência pela posse da terra e pelo território, inclusive do território geológico, obedece a mesma regra de sempre. Não é à toa que nós vamos ter em menos de 40 anos a constante de massacres como o epicentro dessa contradição”, explica.
Trocate cita vários massacres contra camponeses que ocorreram na região do sul e sudeste do Pará, como o assassinato de oito sem-terra na Fazenda Ubá em 1985, no município de São João do Araguaia. Uma década depois do episódio, ocorreu o massacre de Eldorado dos Carajás e este ano, a cena se repete com a Chacina de Pau D’Arco.
Guilherme Carvalho, coordenador do programa Fase Amazônia – Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional, compartilha da mesma avaliação de Trocate e acrescenta que o governo golpista de Michel Temer aprofundou a “visão colonial sobre a Amazônia”, mas lembrou que o governo Petista também não rompeu com modelo desenvolvimentista. Ele considera ainda que mesmo diante dos ataques e desmontes de direitos, a resistência foi a marca deste ano:
“A renhida e corajosa resistência de povos indígenas, campesinos, quilombolas, ribeirinhos, mulheres e outros atores sociais. Estes, mesmo numa conjuntura de retrocessos, impuseram várias derrotas aos golpistas e ao grande capital.”
Como exemplo, vale lembrar a mobilização do povo Munduruku que conseguiu cancelar a audiência pública da Ferrogrão, que seria realizada em Itaituba, no Pará, no início de dezembro. O empreendimento projetado para ligar os estados de Mato Grosso e Pará impacta o território indígena.
Para 2018, Carvalho avalia que os conflitos socioambientais irão se agravar, mas pontua que a tendência também é ampliar as alianças de luta entre os movimentos sociais. Barbara Dias, integrante do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) em Itaituba, também acredita que a tendência é unir forças.
“O que está acontecendo é que esses povos estão se dando conta de que sozinhos não irão conseguir, então começam a surgir alianças também entre beiradeiros, ribeirinhos, quilombolas, indígenas, entendendo que o grande inimigo hoje é o governo federal, porque tem um projeto de sociedade, tem um projeto de economia que exclui o modo de vida deles”, opina.
Dias considera que, mesmo sendo um ano de eleições, a resistência contra o governo golpista deve ser maior no ano que vem, porque a sua base aliada, composta por ruralistas, vai acirrar a ofensiva contra os povos indígenas, comunidades tradicionais e camponeses para aprovar projetos e medidas que ainda tramitam na Câmara.