Por Raul Longo.
Um dos tantos casos do Mercado Público, onde se gerou a maioria das expressões populares de Florianópolis. No decorrer dos contares as versões se diferem, mas, em suma, o vendedor de pombas, ao lado de seu balaio, confessava desejos por alguma morena ou galega que o desiludiu numa frase: “- Mofas com a pomba na baláia”.
Se a insistência do candidato aos favores da moça algum dia o elegeu aos prazeres almejados, não se conta. Mas no amor como no jogo, a insistência não vale nada se não se souber blefar e aproveitar o momento da jogada certa.
Em Santa Catarina o jogo político continuou de cartas marcadas mesmo depois da ditadura militar, com os potenciais naturais do estado repassados como fichas de cassino para apostadores de toda parte.
E ainda há muito a ser arriscado, pelos próximos crupiês, na mesa do jogo de interesses por patrimônios públicos. Pois isso de transgressões a determinações e códigos ambientais, é como qualquer outra aposta: o sujeito jura que vai só fazer uma fezinha e ao fim da noite já está arriscando todo o futuro da família.
Vez por outra acontece a denúncia de algum promotor público indignado com a jogatina. Dá em investigação federal, escândalo a ser abafado pelos parceiros da mídia monopolizada pelo grupo RBS, e alguma aporrinhação. Mas nada que não se resolva realocando alguns assessores pra buscar apostas por fora, e se vai levando até a próxima rodada de uma nova eleição ao governo, câmara ou senado. O importante é jogar o jogo!
Mas pra jogar sem perder, há que sempre se estar ao lado do dono da banca. E aqui continua o mesmo, mantendo a promessa em pé. Se não pôde cumpri-la no resto do país, no seu cassino ainda vai acabar com essa raça por mais de 30 anos.
Mas amanhã o PT pode virar o jogo no estado. Se souber usar as cartas certas, vira!.
Até agora teve de manter o blefe sustentando a aposta para não acontecer como no Rio Grande do Sul, com o Olívio Dutra.
Ali, o Olívio não quis pagar pra ver o jogo das montadoras de automóveis e o ACM cacifou. Lá se foi a Ford pra Bahia e o PT já está fora da rodada gaúcha há duas gestões.
Agora as pesquisas indicam probabilidade de voltar ao governo já em primeiro turno, pelo Tarso Genro. Mas é preciso reconhecer que mesmo indignados pela perda dos empregos da Ford, os gaúchos têm muito a lembrar do governo do Olívio. Em Santa Catarina, vamos nos lembrar de quem?
Se o Espiridião não emplacou nem pra prefeito e o Bornhausen pra governar teve de usar Luís Henrique e agora Leonel Pavan, enquanto prepara a cria para continuar a dinastia iniciada lá no Ireneu, a opção talvez seja Ângela Amin que se hoje não convence mais com a demagogia do “letinho” pra mamar votos; em compensação pode contar com o esquecimento das falcatruas e bagunça dos terminais de transportes desintegrados.
Da mesma forma que o eleitorado esqueceu a Moeda Verde e reelegeu a árvore de natal superfaturada do Dário Berger e o Andrea Bocelli de presente para a filha do Luís Henrique, e que o Ministério Público embargou.
Mas será que o eleitor de Santa Catarina é esquecido, ou falta melhores histórias pra lembrar?
Difícil manter memória do que jamais aconteceu. Mas há acontecimentos que se tornam inesquecíveis! E imperdoáveis também.
Há 4 anos atrás fui à Bahia para verificar em que se deu aquilo sem o Bornhausen de lá, tentando entender como é que o Jacques Wagner conseguiu virar o jogo e levar o PT ao governo baiano no ninho do velho dragão da maldade. Seria Wagner o santo guerreiro?
Não foi nada de esotérico, nem por castigos de santos e orixás. Foi a farroncaria do ACM carteando aqueles mesmos empregos da Ford que os gaúchos lamentaram copiosamente, imprecando contra Olívio e o PT.
A explicação se encontra nas palavras do Prof. Iberê L. Nodari da Faculdade de Engenharia Mecânica da UFBa: “Para os baianos restaram as vagas de emprego primário muito mal remuneradas, média de 500,00 reais quando as mesmas funções, em São Paulo, valem de 1.200,00 a 1500,00.” Esta e outras afirmações do Prof Nodari em www2.uol.com.br/aregiao/art/fordba demonstram porque, depois de 4 décadas, o carlismo veio a bancarrota com o velho e poderoso crupiê ainda distribuindo as cartas sobre o feltro da mesa do jogo político nacional. Deixou heranças do que arrematou das profícuas riquezas daquele estado, mas para o eleitorado nenhuma saudade que levasse o neto ao segundo turno na disputa à prefeitura de Salvador.
Por essas de lá e acolá, entre muitas outras daqui mesmo, amanhã o PT tem grandes chances de virar o jogo da história política de Santa Catarina, mas também pode quebrar a cara e a própria banca se não escolher o momento certo de parar com o blefe e abaixar as cartas.
Quem na quinta-feira passada (22/07) esteve no cassino armado pela OSX no Jurerê Sport Center Club, e testemunhou aquele arremedo de audiência pública em apoio à aposta de 4 mil empregos rateados entre técnicos e operários trazidos de outras baixadas, e mal pagos catarinenses para serviços de chão de fábrica; contra mais de 9 mil desempregos nas atividades tradicionais da região: pesca, maricultura, gastronomia, comércio e turismo; percebeu a evidência de que o jogo mudou de mão.
Até ali quem bancava era o Eike Batista, blefando mero interesse no duvidoso prêmio de um estaleiro a dragar o leito do canal da Ilha de Santa Catarina, para montagem de algumas plataformas e passagem de 6 cargueiros/ano durante apenas uma década e meia. Mas, nos narizes e óculos de palhaço, nas faixas e cartazes, no Jaguará e na Maricota, nos apitos, pedaços de canoas e redes de pesca trazidas pelos Ilhéus de sul a norte da Ilha, ficou evidente que a mão do jogo virou.
Todo bom jogador, antes de tudo é um ótimo observador. E quem não tiver sensibilidade para interpretar as contundentes manifestações orais dos moradores, pescadores, maricultores, comerciantes e até turistas, daquela noite no Jurerê Sports Center; vai perder o melhor parceiro para este final, ou início, de rodada.
Claro que na interpretação do absoluto monopólio da mídia em Santa Catarina, a RBS, tudo não passou de manifestações de algumas ONGs oportunistas instigadas pelo eco-xiitas do ICMBio, sem sensibilidade para as emoções de um bom carteado.
Mas ali também ficou claro que as cartas não estão mais nas mãos do ICMBio que apenas confirmou, em maior amplitude e profundidade, o parecer do biólogo Paulo César Simões Lopes, contratado pela própria OSX: “… a magnitude dos impactos são, em boa parte, permanentes e irreversíveis… Sugere-se, fortemente, a relocação do empreendimento para outra área, onde já existam complexos fora de baías ou enseadas, de maneira que os efeitos nocivos não sejam potencializados…” (os negritos são da cópia do parecer técnico do Ph. D. Paulo Simões Lopes)
Tampouco as cartas estão nas mãos do Promotor de Justiça Rui Arno Richter que recomendou ao governo de Santa Catarina um compromisso de não permissão de atividades portuárias no canal. O diretor da FATMA, a corretora das reservas ambientais do estado, sempre elegante e distante como todo bom crupiê; ouviu calado.
Provavelmente nem o Promotor Arno Richter duvida de que o que disse entrou por um ouvido e saiu pelo outro. Mas se neste sábado, 31 de julho, às 9 horas da manhã no Miramar, durante o lançamento em Florianópolis da campanha de Dilma Rousseff à Presidência da República; o eleitorado não ouvir o PT descartar o blefe do Ministro da Pesca e da candidata ao governo do estado, e, por ela mesma, abrir o jogo; vão quebrar a banca até do Presidente Lula que já é apontado, nas ruas e telefonemas, como sócio do Eike Batista.
Eis uma grande oportunidade do PT virar a história política de Santa Catarina. Ou mofar com a pomba na balaia como tanto deseja Bornhausen.
Atenção: se o seu candidato é o José Serra, não precisa abrir o link abaixo. Em Santa Catarina, todos os eleitores do Serra são favoráveis ao Estaleiro do Eike Batista.
http://www.abaixoassinado.org/assinaturas/abaixoassinado/6673