Se a fotografia nasceu a partir da câmera escura, artifício utilizado pelos pintores renascentistas para copiar a realidade com a máxima perfeição, nada mais natural que ela seja usada para mostrar as cores e luzes do mundo, criando simulacros mais que perfeitos.
Assim, ao fotógrafo caberia apenas a escolha do ângulo e enquadramento adequados e a captação do momento decisivo da composição, como entendia o mestre francês Cartier Bresson.
A fotografia estaria condenada, então, ao figurativismo, à repetição e fixação exaustivas das imagens fugidias da vida e do mundo.
O desenvolvimento tecnológico, no entanto, com a criação de máquinas mais modernas e com mais possibilidades técnicas, permitiu aos fotógrafos contemporâneos algumas transgressões e até mesmo alguns equívocos.
Sem querer me estender muito nessa teoria da imagem e partindo decidido para os finalmentes, lembro que, entre nós aqui da província, foi o designer Aloísio Magalhães quem primeiro buscou utilizar a fotografia, através de montagens, para crias novas composições e imagens. Utilizando-se de um mesmo negativo, revelado de forma normal e invertida, criou o que chamava de fotogramas, colagens que davam um novo dignificado ao figurativismo fotográfico. Esse seu belíssimo trabalho está hoje quase esquecido e pouco é citado.
Ao concebermos os “mosaicos” que ilustram esse artigo, partimos da concepção aloisiana e da lembrança dos mosaicos que formavam o chão da casa dos meus pais, no Pina, e que aos poucos foram sendo substituídos pela cerâmicas modernas e sem graça dos dias de hoje.
A única diferença significativa no nosso trabalho, é que montamos os “mosaicos” não a partir de imagens figurativas ou de paisagens do mundo real, mas sim a partir de recortes de imagens das pinturas dos ônibus e paredes da cidade do Recife.
Feitas no início dos anos 90, ainda em negativos de celulóide, as imagens foram reveladas de forma normal e invertidas, assim como fazia Aloísio Magalhães, e montadas sobre papel escuro.