Por Raíssa Éris Grimm.
nota:
se uma pessoa dirige discursos de ódio contra uma minoria,
você só conseguirá manter amizade com ela
por não fazer parte dessa minoria.
Mesmo que você discorde dela – “ideologicamente” –
(e mantenha amizade com pessoas que formam parte dessa minoria)
o seu vínculo informa sobre um contexto de convivência
que pressupõe a exclusão das pessoas que formam parte
daquela minoria –
de outro modo, o seu círculo de amizades se tornaria um inferno insustentável para uma,
ou para ambas partes.
Provavelmente isso se dá porque – sobre certas opressões – vocês não conseguem perceber os efeitos destrutivos que os discursos de ódio exercem sobre nossos corpos e afetos.
Pra quem não vive a opressão, se torna uma questão de “posicionamento teórico”, ou “posicionamento ideológico” – é o posicionamento de vocês que essas pessoas atacam, não as suas pessoas.
Mas pra quem vive, não são nossos posicionamentos que estão sendo atacados, e sim nossas pessoas como um todo.
Nossa participação, nesse campo de debates, não é simétrica à de vocês:
temos Sempre muito mais a perder,
em termos da nossa integridade psíquica e vital, nesses debates
do que quem não é atingida por esse discurso.
Me parece distorcido
alguns usos que eu vejo da palavra “punitivismo” direcionada, quando cobramos de vocês posicionamento mais firmes sobre essas situações.
Porque – na prática – quem somos constantemente punidas
pelo discurso de ódio de suas amizades
somos nós.
E somos também nós
quem massivamente nos retiramos dos espaços em que essas pessoas circulam –
mas que vocês dizem estar ali “com posicionamento crítico”.
A pretensa “tolerância” de vocês ao discurso que nos odeia
faz com sejamos punidas,
de diferentes formas,
por sermos quem somos – faz com que a gente deixe de acessar espaços
pra nos preservar desse ódio,
ou faz com que tenhamos de pagar o preço
de sermos atingidas por esse ódio – constantemente pressionadas a nos retirar –
para poder estar ali.
Mesmo que não perceba,
você contribui pra sustentação dos espaços que excluem estas minorias.
Espaços nos quais você talvez se perceba numa posição diferenciada (por ter um “posicionamento crítico”),
mas que – na prática – só reforça a nossa exclusão.
Imagem destacada: detalhe de Head VI, Francis Bacon, 1949
Fonte: Casa da mãe Joanna