Quem conhece os meandros do futebol brasileiro diz não estar surpreso com a acusação de corrupção de que a Globo foi alvo na terça-feira (14/11). Muito já foi denunciado sobre os métodos da família Marinho para impedir que outras emissoras conseguissem direitos de transmissão.
A Globo comprava direitos de transmissão da Copa Libertadores da América de uma empresa controlada por um argentino chamado Alejandro Burzaco, quem acusou a emissora de pagar propina a cartolas sul-americanos.
Burzaco foi dirigente da empresa argentina Torneos Y Competencias, que negociava com empresas de de comunicação de vários países os direitos de transmissão dos jogos internacionais.
Documentos divulgados pelo UOL mostram que a emissora brasileira pagava pela Libertadores valor abaixo do padrão do mercado brasileiro. Menos do que pagava pelo campeonato paulista, US$ 10,8 milhões anuais entre 2015 e 2018 por toda a Libertadores…
À Justiça norte-americana, Burzaco confessou ter pago subornos a dirigentes inclusive da Fifa, entre eles o ex-governador de São Paulo José Maria Marin.
Em parte do depoimento, Burzaco afirmou que seis empresas de mídia pagaram propinas por direitos da Conmebol, entre elas a Globo, a Fox Sports, Televisa, Media Pro, Full Play e Traffic.
Não especificou a quem essas empresas teriam pago subornos.
Em nota, a Globo negou as acusações de que pagou propina durante décadas para manter todos os campeonatos de futebol e do esporte em geral durante décadas
Eis a nota da emissora:
”Sobre depoimento ocorrido em Nova York, no julgamento do caso Fifa pela Justiça dos Estados Unidos, o Grupo Globo afirma veementemente que não pratica nem tolera qualquer pagamento de propina. Esclarece que após mais de dois anos de investigação não é parte nos processos que correm na Justiça americana. Em suas amplas investigações internas, apurou que jamais realizou pagamentos que não os previstos nos contratos. Por outro lado, o Grupo Globo se colocará plenamente à disposição das autoridades americanas para que tudo seja esclarecido. Para a Globo, isso é uma questão de honra. Não seria diferente, mas é fundamental garantir aos leitores, ouvintes e espectadores do Grupo Globo que o noticiário a respeito será divulgado com a transparência que o jornalismo exige”
A notícia de que a Globo pagava pouco pela Libertadores, por exemplo, indica coisa diferente do que a emissora diz.
Senão, vejamos: míseros 10 milhões de dólares para transmitir a festejadíssima Copa Libertadores das Américas? A Record, por exemplo, pagaria sem pestanejar. Pagaria até mais para tirar a competição da mão da Globo, mas nunca conseguiu.
Que diferença faria para os dirigentes vender à Globo ou à Record os direitos de transmissão dos jogos? Se a Globo pagava tão pouco quanto diz o UOL, por que os dirigentes continuavam vendendo os direitos de transmissão SÓ à Globo? Pelos belos olhos dos irmãos Marinho?
É estranho, mas a questão mais revoltante e absurda nem é essa, que as investigações, feitas nos EUA, certamente irão deslindar.
A Globo tem sido implacável com pessoas acusadas de corrupção. Cobra punições antecipadas ao julgamento, expõe essas pessoas ao opróbio público. Que diferença do que pede para si. A emissora diz que se investigou e, ao fim das investigações, descobriu que era inocente.
Ó, que surpresa! Você não está chocado, leitor?
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Assista, abaixo, reportagem feita pelo Blog para a TV Cidadania