Por Claudia Weinman, com fotos de Paulo Fortes, para Desacato. info.
“Santa Catarina é o quarto maior produtor de leite do país. Além disso, nosso estado é o maior produtor de leite por quilômetro quadrado no país o que nos mostra o grande destaque que possuímos a nível nacional”, disse Claudio Junior Weschenfelder, Presidente da Associação dos Municípios do Extremo-oeste Catarinense, enfatizando ainda que o Brasil é o quinto maior produtor de leite de vaca do mundo e que a região Oeste seria a grande responsável por estas produções, contendo uma das maiores bacias leiteiras do mundo.
Nesse dia 18 de outubro de 2017, organizações do campo e da cidade realizaram em São Miguel do Oeste/SC um ato contra as reformas trabalhista e previdenciária. Também denunciaram às manobras do governo em promover a importação de leite do Uruguai e desvalorizar a produção no estado Catarinense, um dos maiores produtores na cadeia leiteira. O ato faz parte da jornada de lutas das organizações que compõe o campo unitário em todo o país junto a Frente Brasil Popular. Em São Miguel do Oeste 800 pessoas, vindas de 15 municípios da região participaram da mobilização.
Logo pela manhã a movimentação iniciou em frente à Previdência Social. A entrega de pautas para representantes do INSS foi uma das ações. Lideranças fizeram falas também explicando a importância e o contexto que levou, mais uma vez, o povo a ocupar às ruas.
O Prefeito de Guarujá do Sul/SC, Claudio Junior Weschenfelder, é presidente da Associação dos Municípios do Extremo Oeste de Santa Catarina (Ameosc) e trouxe dados para justificar o porquê os/as camponeses/as consideram que a cadeia leiteira passa por um momento de profunda crise. “Santa Catarina é o quarto maior produtor de leite do país. Além disso, nosso estado é o maior produtor de leite por quilômetro quadrado no país o que nos mostra o grande destaque que possuímos a nível nacional”, disse ele enfatizando ainda que o Brasil é o quinto maior produtor de leite de vaca do mundo e que a região Oeste seria a grande responsável por estas produções, contendo uma das maiores bacias leiteiras do mundo.
Weschenfelder fez um levantamento em Guarujá do Sul e segundo os dados apontados, a queda do valor do leite é de no mínimo R$0, 40 por litro, o que representa conforme ele, uma perda mensal de meio milhão de reais só no município. “Os comerciantes deveriam ser os primeiros a puxar a fila e se posicionar, pois estão perdendo também”, disse ele.
O agravo do baixo preço pago à quem sobrevive com a renda do leite no estado está relacionado com o pronunciamento do Presidente Michel Temer no último dia 13 de outubro, quando ele mencionou a retomada da importação de leite do Uruguai. “Nós sabemos que a importação sempre teve. O que estamos questionando além disso, são os volumes que devem ser dimensionados de acordo com a oferta e procura”, defendeu.
Jonas Ansolin, representante do Sindicato dos Trabalhadores na Agricultura Familiar (Sintraf) de Dionísio Cerqueira mencionou ainda que o objetivo da mobilização foi de conscientizar a sociedade para os impactos das medidas do governo Temer, que conforme ele, já anunciou corte no orçamento para a agricultura em 2018. “As pessoas estão sofrendo, por isso é preciso dialogar com a sociedade pois os agricultores são atingidos diretamente, mas o comércio também está perdendo muito e vai perder mais no próximo período”.
O representante da Sintraf de Guaraciaba/SC, Vilson Sturmer falou ainda sobre as perdas no Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf). “Para o próximo ano temos notícias ruis no contexto da agricultura familiar. O Pronaf que é uma luta de mais de 15 anos está sendo tirado dos/as agricultores/as, além das medidas que o governo está implantando de deixar o juro de forma igualitária para o pequeno e para o grande produtor. Isso é injusto, simboliza o fim do pequeno agricultor”.
“Falta de consciência de classe”
Uma segunda ação foi realizada em frente ao Banco do Brasil de São Miguel do Oeste. Ao chegarem próximo ao meio dia, as organizações partilharam a comida, trancaram a porta central e lateral do banco não permitindo a entrada de pessoas por algumas horas. “Sentimos que muitos/as trabalhadores/as em condição de perda de direitos igual a nossa ficaram indignados por não poderem usar o serviço do banco hoje de meio dia, no entanto, reiteramos que as perdas dos/as camponeses/as são perdas de todos/as nós. As reformas atingem todos os/as trabalhadores/as, a nova geração vai perder o sonho de um dia se aposentar se não mexermos com essa estrutura agora. Sentimos uma grande falta de consciência do povo em não apoiar uma luta que deve ser unitária”, disse o membro do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), Charles Reginatto.
Em frente ao banco ainda, a polícia solicitou a retirada das organizações no entanto, a assembleia da mobilização decidiu permanecer e promover o derramamento de leite em frente da porta central da unidade, para segundo Reginatto, denunciar as medidas do governo e chamar atenção da sociedade.
Na ADR
Como terceira e última ação, as organizações caminharam pela cidade em direção a Agência de Desenvolvimento Regional de São Miguel do Oeste, órgão ligado ao Estado. No espaço, foram feitas falas, também aconteceu o derramamento do leite e fotos de senadores, deputados, do governador do estado catarinense Raimundo Colombo e do presidente Michel Temer foram queimadas em protesto às reformas trabalhista e da presidência.
Segundo o representante da Pastoral da Juventude Rural (PJR) e Pastoral da Juventude do Meio Popular (PJMP), Wesley padilha, queimar as fotos dos deputados e senadores, além das outras representatividades é simbólico para a juventude que deseja segundo ele, viver bem no campo. “São pessoas que votam contra nós trabalhadores/as, que tem uma visão de agricultura sem camponeses/as. Nós queremos permanecer na terra sem ser escravo do trabalho. O mercado não vai garantir os nossos direitos então, é na marra que vamos fazer isso”.
Maria Carmen Viero, do Movimento das Mulheres Trabalhadoras Urbanas (MMTU), falou ainda sobre as privatizações e sobre como elas atingem a vida de quem mora no campo e de quem vive na cidade. “Estamos aqui em frente a Casan hoje, precisamos preservar a Casan pública assim como devemos proteger as demais pois sabemos que uma empresa privada jamais vai se preocupar com o agricultor que mora na beira do rio Peperi por exemplo, ou então, com um morador de periferia”, enfatizou.
O Padre Luciano Gattermann, da Paróquia São Miguel Arcanjo também falou que a Igreja de São Miguel do Oeste assume a causa e as pautas das organizações sociais. “Nós estamos com o Papa Francisco e ele diz: Nenhuma família sem casa, nenhum camponês sem terra, nenhum trabalhador sem direitos. Por isso assumimos essa causa junto com todos/as”.
Mobilização de novembro
Ao final do ato, foi votado em assembleia que no mês de novembro novas mobilizações vão percorrer o país diante do contexto de perdas que os/as trabalhadores/as do Brasil estão vivendo. Charles Reginatto, do MPA, mencionou que as organizações vão retornar com maior força pois consideram o momento atual “injusto” e “violento”.